Os riscos e os desafios das novas Áfricas

A nova corrida a África tem, como é natural, novas regras, novos objectivos e novos limites. É claro que não existe ‘uma África’, existe um continente com 54 países independentes, diferentes, moldados pela História, pela Geografia, pela herança cultural e colonial e pelas circunstâncias correntes da sua política e economia. Sabemos isso, mas generalizamos sempre…

Já fomos, em vida, contemporâneos de três Áfricas: a África colonial europeia, até aos anos 60/70 do século passado; a África independente do tempo da Guerra Fria e a África pós-Guerra Fria, desalinhada dos blocos e mais entregue a si mesma, para o bem e para o mal.

Para além destas categorias de espaço e tempo, podemos também considerar categorias regionais ou étnico-geográficas: uma África do Norte, magrebina e islâmica; uma África subsariana tropical, com distinções entre Costa Ocidental e Costa Oriental; e uma África Austral, com características nacionais, políticas e até económico-sociais bem singulares.

Outra determinante é o passado colonial e as marcas religiosas, linguísticas e culturais que deixou nos respectivos Estados. Enquanto na Europa os reinos e unidades políticas nascidas do colapso do Império Romano actuaram livremente em termos de expansão ou defesa até se formarem como Estados, os Estados africanos tiveram, quase sem excepção, fronteiras políticas determinadas originalmente pelo poder colonizador e confirmadas e reguladas pela partilha da Conferência de Berlim.

O dogma da inalterabilidade dessas fronteiras, sancionado pela OUA e pela União Africana, começou a ser posto em causa pela força dos factos a partir do fim da Guerra Fria – como com a secessão da Eritreia em relação à agora Etiópia e do Sudão do Sul em relação ao Sudão.

 A verdade é que a sacralidade das fronteiras já fora alterada na Europa com o fim da Jugoslávia, a secessão bipartida da Checoslováquia e, principalmente, com a fragmentação da União Soviética. E quem sabe agora o destino da Escócia no Reino Unido e da Catalunha na Espanha?

Em África, as questões de estatalidade continuam a pôr-se: para além dos casos da República Árabe do Saará Ocidental, em conflito com Marrocos mas reconhecida por parte dos Estados da União Africana, há a Somalilândia, que nenhum Estado reconheceu mas que, além de uma população significativa e um autogoverno funcional, acaba por ter algumas relações externas de conteúdo e geometria variáveis – é, por exemplo, ‘reconhecida’ pelo UKIP da Grã-Bretanha e tem uma missão permanente em Londres.

Mas a questão essencial da África ou das Áfricas de hoje não é a economia, é a segurança. A África está também seriamente ameaçada pelo terrorismo jihadista, representado sobretudo pelo Estado Islâmico e a Al Qaeda e os seus ramos ou franchises – actuando na Líbia, na Nigéria, no Quénia e no Mali. O agravamento da situação securitária e a quebra do preço das commodities são sérios desafios e problemas para toda a África e todas as Áfricas. Voltaremos a eles.