O recuo social do capitalismo

No próximo dia 15 de Setembro completam-se sete anos sobre a falência do banco americano de investimentos Lehman Brothers, que desencadeou um pânico financeiro global, ameaçando uma depressão económica como a dos anos 30 do séc. XX. Felizmente o pior não se concretizou, graças à intervenção anti-crise de governos (como o americano e o britânico)…

Na altura da Grande Depressão o comunismo soviético ganhou um forte impulso – o chamado ‘socialismo real’ era a alternativa ao capitalismo. Agora, quando já não existe qualquer socialismo real, as forças políticas de esquerda, incluindo a social-democracia, e de extrema-esquerda pouco ou nada beneficiaram com a crise. Porque não existe no terreno, a funcionar, uma alternativa à economia de mercado. Aqui, pelo menos, tem sentido o acrónimo TINA (there is no alternative, não há alternativa).

Claro que capitalismos há muitos. Temos o capitalismo de Estado na China, com resultados económicos espectaculares durante muitos anos, mas sob a ditadura do partido dito comunista. E agora a crise chegou à China.

A Rússia, onde nunca existiu democracia, nem lei, nem mercado, não é modelo para ninguém. Depois há o caso tragicamente anedótico da Venezuela, uma desgraça económica apesar do petróleo, mas que nem por isso deixa de ser uma referência para alguns intelectuais de esquerda – que não vivem lá, claro.

Resta, então, reformar o capitalismo. O que aconteceu depois da II Guerra Mundial, com o Estado Social a ganhar corpo na Europa. O excelente crescimento económico nos trinta anos após 1950 – os ‘trinta gloriosos’, como lhes chamam os franceses – ajudaram esse passo no sentido da humanização do capitalismo.

Depois, a globalização tirou centenas de milhões da miséria, na China sobretudo. É positivo. Mas hoje o capitalismo regride do ponto de vista social nos países desenvolvidos. Há quem diga, mesmo, que se está numa quase estagnação do crescimento económico. De facto, o envelhecimento das populações, um fenómeno generalizado, e a tendência para a crescente concentração da riqueza num pequeno grupo de privilegiados travam o crescimento da procura e da economia. Acresce que nos EUA, sobretudo, as desigualdades são agravadas pelo fisco: os ricos pagam hoje menos impostos do que há 50 ou 60 anos, um péssimo sintoma.

As consequências sociais desses factos são preocupantes. As pensões e os apoios na saúde e no desemprego tendem a reduzir-se. O futuro é encarado com pessimismo nos países desenvolvidos. Em vez de todos os anos, em regra, a maioria das pessoas melhorar de nível de vida, agora na melhor das hipóteses não piora, estagna.

Este ambiente explica, em boa parte, a forma favorável como têm sido acolhidas as críticas do Papa Francisco ao capitalismo actual. Exceptuam-se, naturalmente, os membros da ala radical do Partido Republicano dos EUA, que sacralizam o mercado.

Aliás, em 2009 Bento XVI, na encíclica A Caridade na Verdade, pedia “uma nova e profunda reflexão sobre o sentido da economia e dos seus fins” e “uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento”. Apelo que, até hoje, encontrou fraca resposta da parte, por exemplo, das universidades católicas espalhadas pelo mundo.