O debate de Passos e Costa… afinal foi com Sócrates

“Gostava de debater com Sócrates, mas terá de debater comigo”, disse Costa. “Não é muito diferente”, respondeu Passos

O que era para ser um frente-a-frente revelou-se um debate a três. Mesmo no 33 da Rua Abade Faria, José Sócrates foi a figura central do duelo televisivo entre Passos e Costa. O líder do PS tinha evitado dizer-lhe o nome, mesmo quando exibiu um gráfico que mostrava que apenas o Governo de Passos Coelho reduziu o PIB, mas o primeiro-ministro fez questão de voltar ao passado para mostrar que foram os socialistas quem trouxe a troika.

Quase no final da hora e meia de debate, já António Costa se mostrava impaciente com a frequência com que Passos Coelho regressava às “políticas faraónicas” de Sócrates para colar o atual líder socialista ao antigo primeiro-ministro. “O dr. Passos Coelho é um passa-culpas permanente”, desabafava Costa.

Ao ataque, António Costa mostrou gráficos, recuperou frases de Passos e de Catroga. Foi a todos os arquivos para tentar provar que Passos e o seu Governo “foram além da troika”, mesmo que o primeiro-ministro tenha repetido que “a política austeritária” que se viu obrigado a seguir não foi feita “pela vontade e pelo gosto de executar medidas de austeridade”.

Passos ainda ensaiou um truque que resultou ontem com Paulo Portas e Catarina Martins: trazer a Grécia para o debate, identificando o PS com o Syriza. Mas Costa evitou a comparação e insistiu na linha que levou para o debate: lembrar as promessas por cumprir de Passos Coelho em 2011 e apresentar-se como o político que tem um currículo que oferece confiança. 

“Eu prometo menos do que aquilo que farei”, assegurou Costa. Passos, que tem passado os últimos quatro anos, a apresentar-se como alguém que não cai em demagogias fáceis, acabou por deixar quase sem respostas estas acusações, justificando-se com a herança do PS.

“Gostava de debater com Sócrates, mas terá de debater comigo”, ia lançando Costa. “Não é muito diferente”, acabou por responder Passos.

Passos promete que não haverá cortes nas pensões, Costa acusa-o de querer atirar pensionistas “para a situação dos lesados do BES”

Trocas de acusações à parte, um tema acabou, porém, por ser central para o debate: o do futuro da Segurança Social.

Foi o momento mais duro do frente-a-frente, com António Costa a acusar Passos de estar, com a proposta de plafonamento horizontal – um sistema que permite fazer descontos para fundos privados a partir de um determinado montante de rendimento – a propor uma forma de “privatização” da Segurança Social e uma “aventura”.

“É lançar as pessoas na aventura, na situação em que estão os lesados do BES”, atirou Costa, lembrando os 600 milhões de corte que estão previstos para garantir a sustentabilidade da Segurança Social no Programa de Estabilidade.

“Não vamos fazer nenhum corte nas pensões”, respondeu, categórico, Passos, que ensaiou um contra-ataque, novamente colando Costa a Sócrates e atacando a proposta de redução da TSU do PS por assentar num estímulo ao consumo, que “é o tal momento de política à José Sócrates”.

O debate aqueceu com Passos a acusar Costa de ter no seu programa eleitoral um “plafonamento vertical”.

"Não há plafonamento nenhum”, insistiu o líder do PS, ironizando com o desconhecimento do adversário sobre os programas eleitorais que estão a jogo nestas legislativas. “Amanhã voltamos aqui com o seu programa”, atirou.

Num debate que não aprofundou qualquer tema e no qual ninguém se quis comprometer com promessas, nem Passos nem Costa deixaram pistas sobre como poderá ser o dia 5 de Outubro na política nacional, caso nenhum dos dois chegue à maioria absoluta.

“Não faço nenhuma especulação sobre qualquer cenário pós-eleitoral”, resumiu Passos Coelho, enquanto António Costa voltou a lembrar que a ambição do PS é a maioria absoluta.

margarida.davim@sol.pt