Paulo Portas ‘encantado’ com Heloísa não deixou de pensar em António Costa

    

 

Portas estava "encantado" por debater com Heloísa Apolónia e fez "o trabalho de casa" para um debate que garante ter levado "a sério ". Mesmo assim, o líder do CDS não escondeu a desilusão de não ter António Costa na cadeira à sua frente e usou o confronto na TVI24 para lançar recados ao líder socialista no dia em que uma sondagem do Expresso mostra o PS 1,5 pontos à frente da coligação, mas a PàF com mais deputados.

A primeira intervenção de Paulo Portas foi mesmo para reagir às declarações de Costa que anunciou hoje não ter intenção de deixar passar um Orçamento que seja apresentado pela coligação.

"O desespero nunca é bom conselheiro", atirou Portas, que entende que António Costa "resolveu radicalizar".

O líder centrista disse mesmo não compreender a opção de quem " vota contra um orçamento que não conhece" e resolve "prescindir da possibilidade de o melhorar pela negociação".

"Não me pareceu uma declaração compreensível pelo eleitorado central", atacou Portas, garantindo que do lado da PàF tem havido "sempre disponibilidade para negociar".

Heloísa Apolónia tentou agarrar o debate, trazendo para a discussão as "promessas de Passos" na campanha de 2011 e os slogans com que o CDS se apresentava como o "Partido dos pensionistas" e o "Partido dos contribuintes" para salientar a importância da "palavra dada".

Foi a deixa para falar do episódio da demissão de Paulo Portas no verão de 2013.

"A demissão irrevogável foi uma das situações mais caricatas dos últimos tempos", lançou a líder do Partido Ecologista Os Verdes, para lembrar que Portas "trocou essa demissão irrevogável pelo título de vice-primeiro-ministro".

Portas soube, contudo, desviar-se do ataque de Heloísa, voltando a falar para Costa.

"Posso compreender que o PEV que é anti-euro que vote contra um orçamento que terá em conta as regras do euro. Tenho mais dificuldade em compreender que o PS o faça", respondeu, justificando a forma como voltou atrás na crise do "irrevogável" com as responsabilidades governativas dos centristas.

"Há uma diferença entre a coligação que o PEV tem com o PCP e a coligação que o CDS tem com o PSD, que é nós fazermos parte do arco da governação", afirmou, assegurando estar "à vontade com" o episódio que a deputada do PEV considerou "caricato".

Nacionalizações custariam 28 mil milhões

O momento mais duro do debate acabou por ser o contra-ataque de Portas sobre a proposta da CDU de estudar a possibilidade da saída do euro.

"Sair do euro faria cair vertiginosamente as poupanças das pessoas", defendeu o líder do CDS, que usou mais uma vez a Grécia para atacar a esquerda. "Por que é que acha que no momento da verdade o primeiro-ministro grego optou por não sair?", perguntou classificando como "desastroso" um cenário de regresso ao escudo.

Mesmo aí e apesar de ter dito que fazia "com gosto" o debate com Os Verdes, voltou a dirigir-se a Costa. "A dívida deve-se a uma completa irresponsabilidade de governos socialistas", lembrou, depois de sublinhar que o frente-a-frente com Heloísa Apolónia "não seria possível com o líder do PS que vetou a senhora deputada do PEV".

Heloísa Apolónia ainda tentou rebater, frisando que o que a CDU defende não é saída imediata da moeda única e defendendo que "precisamos de estar preparados" porque "um dia os constrangimentos da nossa subserviência ao euro podem agravar-se"

A líder do PEV recordou, aliás, os "custos do euro", lembrando que o investimento decaiu, a dívida pública subiu, o desemprego subiu, "o crescimento económico não se verificou". E que hoje "temos um país amarrado", porque "o euro foi feito para a dimensão das grandes economias".

"Toda a gente lá em casa terá percebido que a senhora deputada não apresentou remédios para o problema da saída do euro", concluiu o número dois da coligação.

Foi de resto nesse momento que o debate se centrou mais nas questões ideológicas, com Heloísa a evitar identificar claramente o modelo político do PEV e preferindo dizer que "o nosso modelo económico tem como eixo central as pessoas".

Portas não deixou passar a deixa para mostrar que fez o trabalho de casa e puxou dos números para demonstrar que nacionalizar as empresas energéticas que a coligação privatizou "tem um custo".

"Fiz as contas, naturalmente porque levei este debate a sério", afirmou, mostrando a soma: 28 mil milhões de euros.

"É um ano inteiro de IVA e de IRC", concluiu, com uma provocação: "Faça as contas, senhora deputada".

Heloísa retorquiu que "gestão danosa do sistema é esvaziá-lo dos serviços", atirando o debate para a precariedade e para o desemprego. "O emprego que nós estamos a criar é absolutamente precário", denunciou.

A retórica de Portas provou, porém, ser mais eficaz curiosamente quando Heloísa Apolónia tocou num dos principais calcanhares de Aquiles da coligação: a emigração.

"Não vale a pena inflacionar números", respondeu Portas quando a deputada de Os Verdes falou em 500 mil emigrantes.

" São 200 mil. Está a confundir emigração temporária com emigração permanente", replicou Paulo Portas, que atacou: "A senhora deputada não fez bem o trabalho de casa. Acha que o Erasmus é emigração?".

Estava ganho o debate, com Heloísa Apolónia longe da forma que tantas vezes mostra nos debates quinzenais com o primeiro-ministro.

Portas lembrou que "a CDU governa 34 câmaras" e que "estas câmaras governadas pela CDU têm estágios através da Garantia Jovem", para desmontar o ataque de Heloísa aos estágios pagos pelo Estado para "mascarar" as contas do desemprego.

"Os estágios quando são feitos pelo Governo são maus e bons quando feitos pelas câmaras da CDU?", questionou o líder centrista perante uma adversária já quase sem resposta.

Nas declarações finais, Heloísa Apolónia apelou ao voto na CDU lembrando a "confiança" que é a marca dos comunistas e de Os Verdes no trabalho parlamentar. E lembrando que esse voto ajudará a "retirar poder e maiorias à direita" e a reforçar a esquerda.

Portas voltou a agitar o medo da instabilidade e do regresso à bancarrota. "O que eu peço aos portugueses é que preservem o essencial", disse na sua declaração final.

margarida.davim@sol.pt