A coligação do Estado Social e o PS neo-liberal. Confuso? Passos e Portas explicam

Parecia um passeio de domingo, mas foi o início da campanha oficial. Passos e Portas tiveram a companhia de Paula Teixeira da Cruz, Marques Guedes e Barreto Xavier para uma visita ao centro histórico de Sintra que acabou por ser pouco mais que uma ida à Piriquita para comer queijadas e travesseiros.

A coligação do Estado Social e o PS neo-liberal. Confuso? Passos e Portas explicam

Pelo meio, juntou-se-lhes a apresentadora de televisão Luísa Castelo Branco e o vice-presidente do PSD Pedro Pinto, todos numa mesa onde Passos falou com entusiasmo sobre o jantar de ontem à noite em Santarém. “Nunca ninguém tinha enchido o CNEMA (centro de exposições de Santarém)”, contava, animado.

O objetivo era mostrar descontração e o ambiente era quase todo amigável. Muitos abraços e beijos. “As mulheres ficam malucas com o Paulo Portas”, comentava uma militante divertida, enquanto o presidente do CDS distribuía cumprimentos no pouco tempo que a caravana esteve na rua. “Ele está mais solto, está mais desenvolto”, apontava outro militante, referindo-se ao presidente do PSD.

Uma única popular atirou com um “mentiroso” à passagem de Passos Coelho. “Tenha atenção que os microfones estão ligados”, pediu o primeiro-ministro sem se deter. “Estúpido. Desgraçaste os meus filhos”, disse ainda a mulher, já Passos lhe tinha virado costas.

Momentos antes, uma idosa lançava a Passos Coelho um “adoro-o”. “Enterre-os bem enterrados”, aconselhava. No meio da multidão também havia quem só quisesse comer uma queijada. “Só estorvam”, reclamava um turista domingueiro.

 ‘Esperamos que as pessoas tenham paciência para nos ouvir’

“Duas semanas de campanha eleitoral é muito tempo”, confidenciava já à mesa, Passos Coelho, esperando que “as pessoas tenham paciência para nos ouvir”. O “desafio”, sabe o líder da coligação, é “conseguir estar duas semanas a passar o essencial sem muito ruído”.

E o que é, afinal, o essencial? Passos e Portas haveriam de o dizer a seguir, num almoço na Malveira: mostrar que PSD e CDS têm uma agenda social e que o PS, esse sim, está a pôr em causa  o Estado Social, a começar pela Segurança Social, retirando-lhe financiamento, cortando nas pensões não contributivas e pondo em causa a sua sustentabilidade.

Com as sondagens a apontar para um empate, a coligação Portugal à Frente quer garantir “à maioria dos portugueses que vota e não têm partido” – como dizia Passos aos jornalistas ainda em Sintra – que não têm programa neo-liberal e que vão proteger o Estado Social.

Passos Coelho confessou mesmo, no almoço com militantes, que muitas vezes é abordado por idosos nas ruas que lhe perguntam: “Conseguia o senhor viver com 270 euros ou 350 euros de pensão?”.

O primeiro-ministro acha, porém, que a pergunta encerra uma injustiça por ser feita a quem descongelou “as pensões mínimas que os outros congelaram”.

 ‘Programa do PS é neo-liberal e cabe numa folha de Excel’

“Como é que em 41 anos de democracia, o nosso Estado Social não foi capaz de dar uma perspetiva de futuro e de presente agora a estas pessoas?”, questionou-se, explicando que o problema vem de trás. “Esta é uma injustiça que temos em Portugal, mas é uma injustiça que foi construída durante muitos anos”, sublinhou, explicando que o preocupa mais o futuro.

“Sabem qual é  a maior injustiça? É que aqueles que hoje descontam para que os idosos tenham as suas pensões possam não ter no futuro as suas reformas”, lançou para justificar a defesa insistente que tem feito da necessidade de uma reforma da Segurança Social.

“Mas o Estado Social não é só a Segurança Social”, apontou Passos, que dedicou o discurso também à Saúde, à Educação e, com Jorge Barreto Xavier entre os convivas do almoço, à Cultura.

Os temas são tradicionalmente de esquerda, mas PSD e CDS querem assegurar-se de que não são exclusivo de alguns partidos. E, acima de tudo, querem afastar “o espantalho” – como lhe chamava ontem Passos Coelho num jantar em Santarém – agitado pela oposição que quer colar a coligação a um programa “além da troika” e neo-liberal, recheado de austeridade e privatizações.

Esta tarde, na Malveira, Paulo Portas levou o discurso ao extremo, acusando António Costa e os economistas que fizeram o seu programa e desenharam um corte de 1.020 milhões nas pensões não contributivas e uma baixa da TSU de serem eles os perigosos liberais que porão em causa o Estado Social.

“É realmente um programa neo-liberal que cabe numa folha de Excel”, declarou Portas, reforçando a imagem. “Parece que foi um grupo de ultra-liberais, que apanhou um avião em Harvard, aterrou no Largo do Rato, tomou conta deles e é uma aventura portuguesa”, disse.

margarida.davim@sol.pt