Estados de Alma

1.O debate. Vi o debate Passos-Costa da passada semana à distância, através de live streaming. Não sei se foi a distância ou o online, mas pareceu-me pouco envolvente e nada estimulante. Para que gosta de equiparar estas disputas a jogos desportivos, foi maçador como só um mau jogo de futebol consegue ser. Apostaria que terá…

Mas, tal como no comentário desportivo, o pós-jogo foi bem mais emocionante do que o jogo. De entre os muitos comentários, chamaram-me a atenção aqueles que criticaram Passos Coelho por ter recordado «excessivamente» a governação socialista do tempo de José Sócrates e o concomitante apelo à troika: «Águas passadas», disseram,  «fala-nos antes do futuro». Estranhei, e discordo. Acredito que as eleições, estas como todas, julgam sobretudo o passado, nomeadamente a atuação do partido incumbente. «Promessas leva-as o vento», e o eleitorado deve sabê-lo. Como sabe que os partidos, no Governo, nunca se afastam muito da sua natureza profunda, digam o que disserem.

As duas peças probatórias mais importantes no julgamento que se aproxima são assim:

a) Quem nos conduziu à crise financeira de 2010-2011 e que motivou o pedido de resgate externo?

b) Teria o PS conseguido satisfazer as condições desse resgate com menores custos para o país?

À primeira respondo «PS» e à segunda respondo «Duvido».

2.Brasil. A situação  do Brasil é a muitos títulos relevante para a disputa eleitoral deste lado do «tanto mar». Ao contrário do que se possa pensar, as causas profundas da crise no Brasil, que conduziu ao brutal downgrade da sua dívida, não são os múltiplos casos de corrupção ao mais alto nível nem qualquer choque económico adverso.

A crise atual é antes o produto de uma destruição paulatina mas continuada, ao longo de mais de três mandatos presidenciais, das instituições de governança macroeconómica criadas por Fernando Henrique Cardoso, assentes na independência do banco central e na responsabilidade orçamental. Elas conferiram credibilidade a sucessivos governos e estancaram a inflação. Mas, ao contrário dos diamantes, a credibilidade não é para sempre.