Entrevista com Ana Rita Clara: Aos seis anos imitava a Filipa Vacondeus

O ‘Mais Mulher’ é para mulheres?

mas o público é maioritariamente feminino, ou não?

acho que os homens se têm aproximado cada vez mais da sic mulher e, sobretudo, têm deixado de ter problemas em assumi-lo. o mais mulher é muito visto pelo público masculino. isso agrada-me e tenho tido reacções muito curiosas da parte dos homens.

pode contar algumas dessas reacções?

posso contar uma história. um dia saí do programa que tinha acabado de fazer em directo e fui às compras. estava no supermercado e veio um senhor, dos seus 60 e tal anos, dar-me a sua opinião sobre o tema com que eu tinha fechado o programa. sinto-me muito lisonjeada com esse interesse.

é muitas vezes reconhecida na rua?

como sou um bocadinho distraída, acabo por estar mais metida nos meus pensamentos e nas minhas coisas e não reparo. mas sim, vai acontecendo. e gosto desse reconhecimento, porque é um reconhecimento profissional e as pessoas são sempre muito simpáticas e calorosas.

o ‘mais mulher’ está no ar há cerca de um ano e meio. já sente algum cansaço?

não, até porque o programa tem uma virtude muito grande que é todos os dias ter diferentes temas e convidados. todos os dias pensamos em coisas novas. é impossível existir cansaço. isso é muito importante para mim, porque tenho bastante energia e gosto que essa energia seja alimentada.

nunca acorda a pensar que não lhe apetece fazer o programa?

nunca. sou mesmo feliz e apaixonada pelo que faço. para mim, não faz sentido que seja de outra maneira. a televisão é transparente e ou és apaixonado pelo que fazes ou a comunicação perde a força.

quando, por qualquer motivo, está num dia mau também está a ser verdadeira?

eu não acredito em máscaras. já tive uma situação em que eu própria quis testar-me e comprovei que, de facto, quando estou no meu ambiente de trabalho, o mundo lá fora fica esquecido. naqueles segundos que antecedem o início do programa, apaga-se tudo o resto e só no fim é que os outros aspectos da minha vida regressam. isso sempre aconteceu comigo. há uma espécie de clique interno. quando estou com aquele convidado, estou mesmo com aquele convidado e nem sequer reparo nas câmaras à volta. é esse sentido de intimidade, essa televisão de proximidade, que gosto de, pelo menos, tentar fazer. essa verdade é aquilo que interessa. devo isso aos meus convidados e às pessoas lá em casa.

ainda fica nervosa?

faço televisão há sete anos, mas ainda tenho muito para fazer e para aprender. todos os dias sinto o tal roedor na barriga, mas é um nervosismo diferente daquele que, por exemplo, os convidados sentem. a minha preocupação é sempre que as conversas não sejam banais e que marquem quem está a ver o programa. não gosto de fazer televisão a despachar. no meu espaço há espaço para boas conversas.

tem medo do silêncio em televisão?

já tive mais, mas o silêncio é uma coisa complicada. nós somos um bocadinho formatados para ocupar o silêncio. antes, o silêncio causava-me algum nervosismo – até porque falo muito – e isso, às vezes, levava-me a apressar as conversas ou os temas. acho que fui acalmando, amadurecendo, compreendendo a importância das palavras e aprendendo a ouvir.

sempre quis fazer televisão?

não, mas posso dizer que aos seis anos imitava a filipa vacondeus. ia falando para a parede enquanto explicava a forma de misturar a farinha com o açúcar. acho que sempre gostei de comunicar e sempre quis fazer alguma coisa que estivesse relacionada com comunicação. a televisão só surgiu quando a minha mãe me inscreveu no casting para o curto circuito da sic radical. eu nem sequer conhecia o programa.

a sua mãe chegou ao pé de si e disse que a tinha inscrito?

sim. nessa altura, eu estava na faculdade, mas lá fui ao casting e correu muito bem. fiquei como finalista e, depois, recebi o convite para a ntv, que estava a surgir no porto. isso foi bom porque me permitiu terminar a licenciatura em sociologia que estava a finalizar na universidade do minho, em braga. sempre gostei de comunicação, mas também amava sociologia, porque gosto de conhecer tudo, de perceber os fenómenos sociais e as pessoas, de observar o que me rodeia. achei que seria uma boa aposta académica e foi. cheguei a trabalhar como socióloga e gostei muito.

fez o quê como socióloga?

coordenei um estudo sobre públicos para a cultura da faculdade de letras do porto. foi uma experiência maravilhosa.

ao mesmo tempo estava na rtpn?

sim. e depois chegou um daqueles momentos em que é preciso tomar decisões. estava muito feliz na rtpn – tinha apresentado o xpto –, a fazer o ultra sons, até que surgiu o convite para a sic, em 2005. na minha inocência, ainda pensei que seria possível manter as duas coisas, mas claro que não era [risos].

gostava de chegar à sic generalista?

foi lá que comecei quando vim para lisboa e não sinto que tenha saído. olho para a sic mulher como uma fantástica oportunidade para me expressar e poder crescer como apresentadora. foi com o boarding pass [programa sobre viagens] que comecei a sentir uma liberdade total para poder mostrar-me e revelar-me mais.

e deve ter sentido muita inveja…

eu própria tenho inveja minha quando vejo as fotografias… dêem-me o boarding pass outra vez [risos].

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jose.fialho@sol.pt