Passos Coelho vai à rua e encontra um Montijo amigável

Foi a primeira arruada da campanha oficial: pouco mais de 400 metros numa rua do Montijo, o mais laranja dos concelhos num distrito de esquerda. Em 2011, o PSD teve 30,40% dos votos no Montijo e isso notou-se no curto percurso que Passos Coelho fez da Rua Bulhão Pato à Praça da República.

Passos Coelho vai à rua e encontra um Montijo amigável

Não eram muitos os que esperavam o primeiro-ministro, mas eram convictos nos elogios. Passos ouviu de tudo. “É uma brasa”, dizia uma senhora. “É muito elegante”, elogiava outra. “O Costa promete tudo, mas eles já nos levaram à bancarrota três vezes”, atirava um idoso. “Sou do PSD. Se é preciso quem no Barreiro dê a cara, eu dou”, afiançava outro num caloroso aperto de mão ao candidato.

Passos só não ouviu queixas nem insultos. Nem uma voz crítica se levantou contra o líder da coligação, que ia entrando em lojas e cafés com Maria Luís Albuquerque e Nuno Magalhães ao lado. Desta vez, Paulo Portas não foi.

O primeiro momento de rua desta campanha oficial só foi anunciado aos jornalistas hoje de manhã e com a hora errada. Era às 16h e não às 17h como constava da agenda oficial. E chegou a ser pensado para a Baixa de Setúbal, que seria o local escolhido pela distrital local por ser o mais tradicional para este tipo de eventos de campanha.

Passos e Portas preferiram o Montijo, mesmo ao lado de uma fábrica de carnes que tinham escolhido visitar para, mais uma vez, mostrar o Portugal de sucesso. “Ir para o Montijo dava-lhes mais tempo para conversar antes do jantar em Setúbal”, justifica uma fonte da campanha.

Os jornalistas queixavam-se desde sábado, quando a comitiva passou em passo de corrida pelo centro de Tomar, da falta de rua e esta foi uma oportunidade para Maria Luís Albuquerque provar que o rosto da austeridade pode ter uma receção calorosa num distrito de esquerda.

Desempregada agradece a Passos

Maria Luís e Passos Coelho ouviam mesmo um “bem-haja” de uma desempregada de longa duração que contou à ministra das Finanças que a última ocupação que conseguiu com o seu CV sem licenciatura “mas com muita experiência profissional” foi um estágio do IEFP pago a 4,25 euros à hora. Mesmo assim e apesar de garantir não existirem as 20 mil vagas para empregos no IEFP que viu anunciarem na televisão, pediu a Passos para continuar “o bom trabalho”.

Estava num café onde todos os que se dirigiram à comitiva tiveram palavras de agradecimento ao Governo. “Estávamos quase na bancarrota. O que vocês fizeram foi quase um milagre”, dizia um idoso já cá fora.

A caravana ia seguindo e ao fundo da rua já mãe e filho esperavam por Passos Coelho e “a senhora primeira-ministra”. São militantes desde os tempos de Sá Carneiro e já tinham ido ver Maria Luís Albuquerque a Alcochete “porque ligaram lá para casa da distrital a avisar”. Desta vez, não foi preciso telefonema. “Vivemos num prédio alto e vimos lá do fundo”. Queriam cumprimentar o primeiro-ministro e conseguiram.

Enquanto esperavam pela aproximação da caravana, um militante da velha guarda fez Passos recordar a campanha de 1979, quando as “mãos gelavam” ao agora primeiro-ministro, que nessa altura andava “com o frio de Trás-os-Montes” a colar cartazes.

Agora como em 1979, “é preciso estabilidade para deixar o Governo trabalhar bem”. Na altura, a maioria de Sá Carneiro saiu reforçada. Agora, Passos Coelho espera que suceda o mesmo.

Mesmo sem muita gente, a comitiva seguia aos tropeções, numa confusão de fotógrafos repórteres de imagem e jornalistas, todos bem apertados por um cerco de Jotinhas, com bandeiras e gritos de “Portugal, Portugal”. A imagem fazia lembrar a velha tática romana do quadrado.

“São as instruções que têm da segurança”, assegurava o líder da JSD, Simão Ribeiro, prometendo que, para a próxima, as suas tropas darão mais margem de manobra para que quem acompanha a arruada se possa aproximar do primeiro-ministro.

Uma hora antes, depois de sair da câmara frigorífica da empresa de carnes Raporal, Passos Coelho explicava que tinha ido “aquecer as orelhas à sala das máquinas” da fábrica no final da visita. “Nem foi preciso olhar para as sondagens. Foi só ir à sala das máquinas”, brincava. No Montijo, também não precisou de olhar para os estudos sobre as intenções de voto para aquecer. Bastou-lhe o calor dos militantes que não faltaram à chamada.

Foi um momento em que tudo correu bem, depois de Passos Coelho ter feito tremer a equipa da campanha com o “tempo de antena” que deu a um idoso na Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, que se lhe queixou das condições em que vivia. “Não correu bem”, foi-se repetindo na comitiva.

margarida.davim@sol.pt