Esta não é a solução

A imagem de um menino morto, caído de bruços sobre a areia numa praia de Bodrum, na Turquia, fez mais pela causa dos refugiados do que centenas de corpos de homens e mulheres sem vida a boiar nas águas do Mediterrâneo. Escreveram-se em todo o mundo textos emocionados. A Europa foi encostada à parede, exigindo-se-lhe a…

Angela Merkel – a odiada senhora Merkel, que até há umas semanas era, para toda a esquerda, a própria representação do Diabo, e que hoje é quase uma santa para as mesmas pessoas – reafirmou a disponibilidade da Alemanha para acolher 300 mil refugiados e renovou os apelos à comunidade internacional e aos outros Estados europeus para aceitarem imigrantes vindos da Líbia, da Síria, do Iraque e doutras partes do mundo.
Vários países reagiram positivamente ao apelo – e o Governo português disse ‘presente’.
 
O tempo é de emoção e os políticos não podem fugir a isso. Só que os problemas não se resolvem com o coração mas com a razão. É muito bonito fazer declarações a dizer que a Europa vai acolher um milhão de refugiados, que Portugal vai receber cinco mil, que o Marítimo está aberto a aceitar mais uns quantos, que as famílias tais e tais vão dar abrigo a meia dúzia…

Acontece que, por cada refugiado que a Europa abrigue (não falo dos EUA, que aceitaram a muito custo admitir uns ‘ridículos’ 10 mil sírios), aparecerão mais dez refugiados a querer ser adotados. “Se os outros foram, por que não podemos ser nós?”. E a seguir a esses dez aparecerão mais cem. E assim por diante, numa corrente ininterrupta de gente vinda do Sul e do Oriente em busca do eldorado europeu.

E chegará um momento em que a Europa não poderá acolher mais gente, pelo simples facto de que a sua capacidade de acolhimento não é ilimitada. E depois o que se fará? Voltamos ao princípio…

Se tivesse havido uma catástrofe, uma tragédia pontual, com gente a ficar sem casa e sem emprego, as coisas talvez pudessem solucionar-se assim. Mas não se trata disso. Trata-se de populações fugindo à guerra, à fome e às perseguições políticas ou religiosas. E estas questões vão demorar muito tempo a resolver. Muitas décadas. Ou mais.

Em defesa da tese do acolhimento refere-se o exemplo dos Estados Unidos, para onde emigraram no século XIX muitos milhões de europeus – desde ingleses a italianos e judeus russos. Se a Europa beneficiou da emigração, como pode recusar agora acolher imigrantes? – argumenta-se.

Acontece que o mundo está muito diferente. Além disso, não nos esqueçamos de que a América era um território quase desabitado – e, mesmo assim, a chegada dos europeus traduziu-se numa carnificina das populações autóctones, com os índios a serem chacinados como cães. Será esse o exemplo que serve à Europa?

A integração nos países europeus de centenas e centenas de milhares de imigrantes, além de não resolver nada, vai agravar os problemas que já cá existem com algumas comunidades, sobretudo de muçulmanos.

A chegada maciça à Europa de pessoas com outra cultura, outros hábitos, outra religião, que não falam a língua dos respetivos países, vai provocar choques culturais enormes e estimular reações racistas. Os partidos fascistas e neonazis vão crescer. Até porque entre esses imigrantes virão necessariamente extremistas e haverá terroristas infiltrados. Os movimentos muçulmanos radicais não perderão esta oportunidade para infiltrar operacionais no continente europeu. A Europa tenderá a tornar-se um barril de pólvora.

Ao vermos uma criança morta na praia comovemo-nos. Mas ao assistirmos, no dia seguinte, a imagens de migrantes deitando fora pacotes de comida da Cruz Vermelha por terem uma cruz na embalagem, inquietamo-nos. Percebemos que dificilmente estas pessoas se vão integrar na realidade europeia. Hoje clamam por piedade, mas amanhã reclamarão os seus direitos e tentarão impor os seus usos e costumes no que respeita à religião, ao tratamento das mulheres, à aplicação da lei, etc.

A solução para o problema dos refugiados não pode estar na Europa mas sim nas regiões donde eles provêm. A partir do momento em que as populações iniciam o êxodo para o continente europeu, a situação fica incontrolável.

Escrevi há duas semanas um artigo em que propus uma solução para o problema: a criação, no Médio Oriente e em África, de ‘países de acolhimento’ governados pela ONU.

Uns Estados geridos por funcionários das Nações Unidas, com as suas estruturas, onde as populações em fuga possam encontrar a paz e condições mínimas de vida, tendo hipóteses de ter um emprego e trabalhar, é a única solução que vejo para o problema. Ao contrário dos campos de refugiados existentes pelo mundo fora – que são verdadeiros depósitos de seres humanos, onde as pessoas não fazem nada e vegetam à espera de não se sabe o quê – estes novos países poderiam dar um futuro aos migrantes, proporcionando-lhes o início de uma nova vida.

Depois da publicação desta proposta, recebi muitos emails de apoio. Curiosamente, no mesmo dia, um porta-voz dos EUA avançava uma solução parecida, propondo a criação de zonas demarcadas na região dos países em conflito para acolher esses migrantes e evitar a sua fuga desordenada.

Também Cavaco Silva, na receção ao Presidente do Senegal, adiantava com lucidez que não se deve apenas pensar “na solidariedade que é fundamental os europeus demonstrarem em relação a estes refugiados”, sendo preciso trabalhar na criação de condições para que essas pessoas fiquem nas suas casas. “É fundamental um trabalho conjunto com países de trânsito e de origem destes movimentos migratórios”, sustentou o chefe do Estado português.

E o Presidente senegalês, Macky Sall, foi ainda mais longe, dizendo ser necessário “trabalhar com as populações nos seus territórios”, dar-lhes condições para ficarem nos seus países de origem. “É preciso agir a montante para fixar as populações, para evitar que saiam dos seus países”, afirmou.

Mas enquanto não for possível evitar ‘que saiam dos seus países’, ao menos que fiquem na zona, que não partam rumo à Europa em aventuras que acabam muitas vezes de forma trágica. E, mesmo quando as coisas correm bem, a Europa não tem condições para integrar os milhões de migrantes que a procurarão em ritmo sempre crescente.

jas@sol.pt

Crónica originalmente publicada na edição em papel do SOL de 18/09/2015