Esticar o Verão

Ainda era Verão. Apesar de já estarmos a ser bombardeados com a campanha de regresso às aulas para aí desde finais de agosto e de a coleção de Outono já ter entrado nas lojas, ou pelo menos nos sites das lojas, ainda era Verão. Já estava menos calor, é verdade, mas o Outono só começa…

Nos primeiros dias de setembro, aproveitando precisamente o facto de ainda ser Verão, fui passar uns dias no meio do campo, perto de Melides. Sem televisão e sem internet, também aproveitei para ver as vistas com olhos de turista e fazer os mesmos percursos, isto é, do alojamento ao cafezinho matinal, passar os olhos pelos jornais e revistas, escolher um ponto com wi-fi para não deixar acumular trabalho, fazer algumas compras no minimercado local, ir à praia ou estender-me a tarde toda à sombra de uma árvore e acabar o dia a jantar num restaurante, de preferência com esplanada, que as noites ainda estavam boas para isso e até havia menos mosquitos. 

 

Mas foi com alguma tristeza e incredulidade que percebi que, pelo menos por aqui, o Alentejo fechou, deixando todos os que cá estão de férias um bocadinho desolados. O facto de alguns restaurantes estarem fechados é o suficiente para, de repente, e apesar de estarmos só nos primeiros dias de setembro e de ainda ser Verão, termos a sensação de novembro. 

É certo que agosto foi sinónimo de loucura e de enchente, com a maior parte dos comerciantes a ignorarem a hora sagrada da ‘siesta’ (embora ninguém lhe chame isto, o que é certo é que o comércio todo, exceto restaurantes, fecha entre a uma e as três da tarde) e a manterem os estabelecimentos abertos durante todo o dia, e inclusivamente o mês inteiro, alguns sem um único dia de descanso semanal. 

 

Mas, passar disso, o ‘fechado para férias’ – quando ainda está calor suficiente para um dia de praia, quando só anoitece às oito da noite, quando ainda há turistas nacionais e estrangeiros a passearem por aí a gozar férias ou simplesmente a queimar os últimos cartuchos – é capaz de ser um bocado precoce, para não dizer outra coisa. Para não dizer, por exemplo, falta de sentido de oportunidade ou falta de faro para o negócio.

As pessoas estão cansadas. É fácil perceber pela ausência de um sorriso, pelo erguer de sobrancelhas no lugar de: «Bom dia, em que posso ajudar?» no café ao lado da praça ou pelo semblante carregado e o mutismo (aposto que temporário) da funcionário do posto de turismo. Com razão ou sem ela, o que é certo é que quem lá vai não tem culpa dos horários alargados, da falta de funcionários ou da teimosia das empresas familiares no que respeita a novas contratações. 

Seja como for, é Verão. E quando o calorzinho se for, aí sim, haverá tempo para férias, demasiado tempo, até. O Inverno é frio e solitário e, nesses meses, ninguém há-de querer viver com o arrependimento de não ter tirado o máximo partido dos meses quentes, de não ter esticado o Verão até, pelo menos, à mudança para o horário de Inverno ou até as tardes começarem a arrefecer. 

 

O sucesso de uma região como ponto de destino turístico tem de ser um esforço conjunto e uma batalha em várias frentes. O litoral alentejano tem imenso potencial turístico. O turismo, além de ser um negócio como outro qualquer, que precisa da mesma dedicação, é também uma forma de valorizar o património, a cultura e as pessoas que aqui escolhem viver. 

Com a vantagem de ter um mercado do tamanho do mundo, quando bem promovido e trabalhado.