O fiel amigo smartphone

Estás stressado? Para, vou levar-te a um sítio. Segue as coordenadas para o parque mais próximo, a dois minutos a pé daqui’. Só lhe faltaria, talvez, acrescentar ‘não fiques triste. Não estejas assim’. E só não acrescenta as últimas frases porque não é um ser humano que se está a dirigir a este interlocutor imaginário.…

A aplicação, desenvolvida por uma equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), chama-se Happy Hour (‘Hora Feliz’) e valeu a um dos estudantes de doutoramento envolvidos no projeto, David Nunes, o prémio Jovem Investigador na Conferência Internacional IEEE-I4CS – Inovação para Serviços Comunitários, que teve lugar na Alemanha.

Com esta aplicação, o telemóvel identifica o estado de espírito dos seus utilizadores e seleciona a apresenta informação, em tempo real, sobre os espaços verdes mais próximos – podem ser parques ou jardins – como forma de escapar ao stresse. Pressupõe-se assim que as caminhadas e o exercício físico serão um bom tónico para a neura. “A tecnologia não nos compreende”, diz David Nunes à Tabu. “Então decidimos criar algo que compreendesse o que estamos a sentir no momento. Mas quando dizemos isto, significa que a máquina consegue entender o local e o meio ambiente onde a pessoa se situa”.

Dito assim, parece inteligência artificial, ficção científica ou até, em espíritos mais incautos, magia. Mas não. É matemática e ciência computacional, com um ingrediente que lhe dá aquele ‘saborzinho’ final, a inteligência. O software consegue interpretar, através do smartphone (note-se que a tecnologia aplica-se ao sistema Android) a frequência do nosso ritmo cardíaco, o ruído que nos rodeia, o nosso movimento e o estado do tempo (a partir da internet). A “informação sobre estas fontes ambientais e fisiológicas”, explica Nunes, é então associada ao nosso estado de espírito.

“A base desse sistema é uma rede neuronal” (como será, por exemplo, obviamente a uma escala muito mais complexa, o nosso cérebro) capaz de aprender com a repetição da análise dos dados e do ensinamento do seu utilzador. Ou seja, a partir de certa altura, o Happy Hour começa realmente a tornar-se nosso ‘amigo’, a “detetar padrões e a generalizar a compreensão desses comportamentos” a várias situações.

À beira de fazer 28 anos, David Nunes quer prosseguir o doutoramento em engenharia informática na FCTUC a desenvolver este software e as suas capacidades. E no futuro, uma empresa tecnológica poderia traduzir em números – leia-se rendimento – este sistema? Para já, o investigador pretende apenas estar no ‘laboratório’ e ver o que o Happy Hour ainda tem para nos dar.

ricardo.nabais@sol.pt