Num documento que está a circular entre os polícias, a que o SOL teve acesso, referem-se situações de alegadas cumplicidades com os dirigentes do Sporting de Braga e do Vitória de Guimarães, da parte de oficiais de várias patentes, situação que se verificará há já vários anos. As descrições das supostas ilegalidades são feitas recorrendo-se a nomes de código. Um comissário designado por “Mala Cheia” e um subcomissário tratado como “general de duas estrelas” são os principais alvos dos autores do documento.
Os agentes dizem-se “diminuídos” pela claque do Braga e alegam que um oficial subalterno de carreira da PSP costuma viajar como “convidado” com a equipa daquele clube. “Estão a ser postas em causa a autoridade dos agentes nos estádios e isto qualquer dia vai dar uma tragédia”, diz ao SOL um agente.
Por isso, serão cada vez mais os agentes que não querem policiar jogos de futebol, mesmo que a título de horas extraordinárias (os chamados serviços remunerados).
O recurso sistemático à Força Destacada no Comando Metropolitano da PSP do Porto, da Unidade Especial de Polícia e do seu Corpo de Intervenção também têm causado um grande mal-estar entre os agentes. “Sendo destacados por questões de ordem pública e não podendo o seu serviço ser remunerado por privados, ao contrário das unidades normais da PSP, fica de borla para os clubes e é um favor que o Comando lhes faz requisitar assim a Unidade Especial de Polícia por tudo e por nada”, salienta a mesma fonte. Segundo o documento que está a circular, isso acontece “até para jogos de risco médio, muitas vezes excedendo o Corpo de Intervenção um terço de todo o efetivo policial, o que vai contra as regras internas da Polícia”.
Comissária do Porto já tinha denunciado ilegalidades
Segundo o SOL apurou, foi Telma Fernandes, comissária do Comando Metropolitano do Porto da PSP, quem denunciou pela primeira vez ilegalidades no Estádio D. Afonso Henriques (do Guimarães), num relatório enviado à sua hierarquia na época de 2013/2014, depois remetido à PSP de Braga.
Especialista no policiamento de jogos desportivos e no fenómeno da violência no futebol, esta oficial é conhecida pelo rigor no acompanhamento de claques, tendo na altura de um encontro entre o Vitória de Guimarães e o FC Porto proibido os Super Dragões de entrarem no Estádio D. Afonso Henriques com bandeiras, tambores, megafones e outros objetos potencialmente perigosos. Mas depois veio a surpreender a claque vimaranense no estádio com esses e outros apetrechos, que são proibidos pelos regulamentos da UEFA e dos organismos federativos portugueses.
A situação que se vive em Braga e estes casos de ilegalidades já foram inclusive denunciados internamente pelas estruturas sindicais da PSP.