PSD e CDS já fazem contas com outro PS

Mesmo que na coligação se evite cantar vitória antes do tempo, a verdade é que sociais-democratas e centristas já pensam no futuro… do PS.

PSD e CDS já fazem contas com outro PS

Olhando para a maioria das sondagens, a coligação dá como muito provável uma derrota de António Costa que, nas contas que fazem, se traduzirá numa guerra pela sucessão na liderança socialista.

“Depois de tirar de lá o Seguro para não ter um resultado ‘poucochinho’, não pode ficar depois de uma derrota”, comenta uma fonte da coligação. “Provavelmente, com o Seguro a eleição estaria a ser mais disputada”, aponta outra fonte.

Segundo várias fontes da PàF, o estilo arrogante de Costa está a prejudicá-lo na mesma proporção que o género humilde de Passos – e a palavra “humildade” é cada vez mais repetida nos discursos – o beneficia.

Seguro, defendem, teria uma imagem mais parecida com a de Passos Coelho e tornaria mais difícil à coligação passar a mensagem do risco da “radicalização” do PS e da instabilidade política.

Se há um ano António Costa parecia um trunfo imbatível, agora a coligação acredita que a forma como está a conduzir a campanha, sem um foco consistente na mensagem e extremando posições, está a beneficiar a PàF nas sondagens.

“Os bons resultados económicos seriam sempre uma linha importante para o nosso discurso e ajudariam sempre a conseguir disputar as eleições”, diz uma fonte da campanha que, apesar disso, acha que seria mais difícil à coligação estar a acreditar numa vitória a uma semana das eleições se o PS não tivesse cometido tantos erros.

“António Costa disse que em caso de derrota não viabilizaria o Governo e votaria contra o Orçamento de Estado. Será impressão minha ou se António Costa perder as eleições já não vai votar coisa nenhuma porque o PS mudará de líder? Portanto não vale a pena estarmos preocupados com isso”, escreveu o deputado do PSD, Duarte Marques, no Facebook.

Não foi o único social-democrata a usar esta rede social para trazer António José Seguro para a campanha. “Sem qualquer ironia, quando assisto a um líder do PS que diz sistematicamente que recusa diálogos, entendimentos, sentar-se à mesa para discutir os problemas do País e que até chumba instrumentos essenciais da governação, como um orçamento, dou por mim a recordar os tempos, sem chama mas mais sensatos, do Dr Seguro”, comentou o assessor do primeiro-ministro Carlos Sá Carneiro também no Facebook.

Assis, o moderado. Pedro Nuno Santos, o guerrilheiro?

A análise que fazem, acreditam, estará também a ser feita nas trincheiras socialistas e pode levar à queda de António Costa.

PSD e CDS já olham para Francisco Assis como o provável futuro líder do PS e comentam até a forma como este poderá tornar mais fácil encontrar uma solução de governabilidade caso o resultado das eleições não dê uma maioria absoluta à PàF.

“É muito mais moderado do que o Costa, será mais fácil chegar a acordos com ele”, apontam várias fontes do PSD e do CDS, que acreditam que o atual líder o PS sairá prejudicado da estratégia de radicalização que tem seguido ao anunciar o chumbo de um orçamento da coligação e até a inviabilização de um governo minoritário da PàF.

À distância, sociais-democratas e centristas vão acompanhando o que se passa no PS e desenhando cenários.

Nestas previsões antes do fim do jogo, há até quem arrisque um cenário de cisão entre socialistas, caso Assis chegue à liderança e Pedro Nuno Santos, apoiado por uma bancada feita com listas desenhadas por Costa, fique como líder parlamentar do PS.

“Aí vamos ter um Assis moderado a tentar negociar connosco e um líder parlamentar a fazer guerrilha no Parlamento”, antevê um membro da direção de Passos Coelho, que acredita que esse seria o pior dos cenários para o PS. “Era uma coisa esquizofrénica”, diz.

Num tom mais humorístico, mas que revela bem o sentimento criado em torno da liderança de Costa, há até quem já tenha criado um evento no Facebook para encontrar um sucessor. A data já está marcada, a hora ainda é indicativa: dia 5 de outubro pela uma da manhã.

margarida.davim@sol.pt