Amigos meus, má fortuna

A Inês já teve três filhas, o Miguel tornou-se pai do Pedro há 15 dias, o Tiago vai para Moçambique durante um ano, o Marcos ainda é fura-vidas com sucesso, a Magda e o Luís continuam juntos e a saltitar pela Europa – meia vida depois, o Álvaro tem uma empresa de sucesso.

não estive lá nos entretantos, nos durantes, nas reticências. restam-me o passado e os agoras. persigo esses jás cheio de sede. com a esperança que me perdoem a ausência prolongada. afinal, e apesar de tudo, eles continuam iguais. nas gargalhadas, no carinho, nas interrogações. pode ser que eu também.

ii – o ódio ao ódio gratuito – parte 2

devido a algumas missivas interessantes de leitores, retorno por momentos à crónica de há 15 dias nesta página – em resposta ao que me pareceu um ataque gratuito à comédia portuguesa por parte de um colaborador do p3, suplemento do público. gostaria de esclarecer dois pontos que me foram gentilmente colocados.

1.º quando enunciei todas aquelas alternativas de humor português (e faltaram várias), tratava-se precisamente disso: mostrar que não há escassez de alternativas (exactamente no extremo oposto do pensamento de rodrigo nogueira). posso até acrescentar um exemplo, pois já me referi a ele neste espaço: não sou particular apreciador da comédia de rui sinel de cordes, mas isso não me impede de reconhecer o facto objectivamente verificável de que existe um culto à volta deste humorista.

um comediante perante a plateia faz equilibrismo no fio da navalha. porque, com o humor, sucede esta coisinha curiosa: ninguém escolhe rir. por outras palavras, não existe um processo mental cujo último passo seja a decisão de rir (ou não) – excepto naquelas situações em que a pessoa não percebeu a piada mas ri na mesma, ao retardador, porque todos os outros riram (e não quer parecer estúpido diante deles). ou seja, trata-se de algo instintivo, espontâneo, um mecanismo cujo gatilho se activa em modo involuntário. o público simplesmente ri, ou não. logo, se o fulano em questão for pura e simplesmente inepto, não sobrevive. desaparece.

qualquer humorista vive ou morre desta forma. e mesmo assim qualquer um prefere este desafio constante à instalação na magnífica zona de conforto que – imagino – seja aquela do estar só, defronte do pc, a insultar. pois mesmo nisso, ou seja, quando insultamos, temos de ter graça. tal como ouvi uma vez de um mestre, ‘se queres dizer a verdade, fá-los rir, caso contrário matam-te’. no caso do texto do colaborador do público que motivou a minha, vá, réplica, um dos factores que me indignou foi o facto deste não compreender que, ao insultar uma classe inteira, insulta simultaneamente todos os que se divertem com esta, através desta.

2.º não disse – em momento algum do meu texto, nem mesmo de forma subtil – que a comédia portuguesa está ao nível da anglo-saxónica. não está. basta ver que o género do stand-up, por exemplo, praticado nos estados unidos pelo menos desde os anos 50, só chegou a portugal nos anos 90 (e no brasil mais tarde ainda; e em itália nem sabem bem do que se trata – enquanto apresentam quadros a dois, numa espécie de mistura entre teatro de revista e a tradição dos contadores de histórias, por vezes com excelentes resultados).

nem tanto ao mar, nem tanto à terra. embora me pareça, claramente, que quem analisar a comédia espanhola, alemã ou mesmo francesa (para não mencionar muitas outras de países considerados menos civilizados), chegará com relativa rapidez à conclusão que portugal se calhar não ficaria nada mal posicionado se existisse um ranking mundial da chalaça.

iii – pérolas encontradas

em conversas durante esta semana

assédio sexual na festa do avante: camarada, quer que lhe mostre o martelo ou a sua vontade foice?

dois amigos num bar: ainda perguntas por que é que ela bazou? porque tens um macaco no nariz! perdão, macaco não… tens um orangotango, pá. e parece estar a mobilar-te a narina esquerda.

em frente ao televisor: este programa faz-me lembrar aquele filme, sexto sentido: estão todos mortos desde o início!

não gosto de gordos que emagrecem. não confio neles. ganham toda uma nova confiança na mesma proporção em que perdem a graça.

então o sócrates diz que foi um ano para paris tirar o curso de filosofia? impressionante – ao fim deste tempo todo o gajo ainda não percebeu que para tirar cursos superiores são precisos pelo menos três.

os nossos colunistas que escrevem muito soberbos e desdenhosos sobre, por exemplo, a américa ou o ‘casal’ merkozy, fazem-me lembrar a anedota do mosquito que resolveu fornicar aquela elefanta junto à árvore e, quando esta gemeu após ser atingida por um ramo, retorquiu: ‘dói, não dói?’.

opá, o emerson joga como se a bola fosse uma granada! quer livrar-se dela e não magoar ninguém, mas enquanto vai-não-vai, hesita… e toda a gente treme.

lfb_77@hotmail.com