O fantasma do BPN

O falido BPN persiste em não morrer, de uma vez por todas. Primeiro, foi a confusão com os quadros de Miró, com o governo determinado em vendê-los e boa parte da sociedade civil contra essa venda (felizmente, ainda estão em Portugal).

A história, agora, é mais grave. Segundo uma investigação da Antena 1, Maria Luís Albuquerque, em Fevereiro de 2013, quando era ainda secretária de Estado, pediu à Parvalorem, empresa responsável por gerir o “lixo tóxico” financeiro do ex-BPN, que alterasse as contas para que elas não fossem tão negativas, o que a Parvalorem fez, dando uma “martelada” nas contas (jargão do sector financeiro), o que permitiu diminuir os prejuízos da empresa em 150 milhões de euros. A ministra já admitiu ter perguntado à Parvalorem se os pressupostos usados pela Parvalorem nos seus registos contabilísticos eram demasiado pessimistas. E, em três dias, a Parvalorem, refez as contas, usando pressupostos mais optimistas para reduzir os prejuízos, que foram de facto reduzidos em 150 milhões de euros, quase 0,1% do PIB. E podemos perguntar: será que a pergunta da ministra à administração da Parvalorem não pode ser vista como uma forma encapotada de fazer pressão? Afinal, era uma pergunta da superior hierárquica, e para bom entendedor…

Ainda segundo a investigação da Antena 1, a Parvalorem enviou depois a Maria Luís Albuquerque uma nota interna em que quantificava a redução dos prejuízos, e a futura ministra respondeu agradecendo o trabalho feito, mas lamentando não se ter ido mais além.

A história é confirmada por um empregado da Parvalorem. É muito grave e, a ser verídica, só há uma saída airosa para a coligação: a demissão imediata de Maria Luís Albuquerque, que até parecia uma pessoa séria e competente, mas que não tem condições políticas para permanecer no cargo. Resta saber quem a irá substituir. É que faltam cinco dias para as eleições, e este escândalo fará inevitavelmente mossa na coligação PaF. Podem sempre pedir a um secretário de Estado que assuma o cargo, pois arrisca-se a ser o Ministro das Finanças que ocupou o lugar por menos tempo na história da democracia portuguesa.