Frente e Verso

É mais jovem do que eu, pouco mais de 40. Nasceu três meses depois do 25 de Abril, mas de Portugal tem amigos que lhe falaram do romantismo da revolução. Juram-me que gostou de saber dos cravos na ponta das espingardas, do povo na rua.

Ao primeiro dos seus filhos batizou Ernesto em memória de Che. Casou com uma revolucionária, outra coisa não faria sentido. Acreditou numa revolução que partisse os dentes ao capitalismo. Ganhou eleições e virou do avesso a Europa. Foi atacado e defendido, amores e ódios, fantasmas e redenções. Inventou Varoufakis e colocou-o na gaveta. Cedeu ao capitalismo e aceitou mais austeridade em troca de reformas e de dinheiro. Muitos camaradas assumiram que era um vendido. Bateram com a porta do Syriza, formaram outro partido, tentaram desacreditá-lo.

O homem de impecável camisa branca, mais sozinho do que antes, acossado por sondagens e novos inimigos, abandonado por muitos que o seguiam desde a juventude, fez cair o seu próprio governo e assumiu estar pronto a ir a jogo. No passado domingo teve a sua vingança e ganhou de novo as eleições e um lugar na história. Chama-se Alexis Tsipras, tem várias verdades, múltiplas caras e uma tendência para baralhar as contas… e ganhar.