Precisamos mesmo de tantas atualizações?

Da última vez que comprei um computador, há cerca de um ano, explicaram-me que o processador de texto Microsoft Word era vendido à parte. Ao chegar a casa tive uma surpresa: dentro da caixa não havia nenhum CD. Apenas um mísero cartão com um código.

Devo ter introduzido a infindável combinação de letras e números umas boas 50 vezes – mais depressa, mais devagar, carregando nas teclas com diferentes graus de força, com ou sem capitulares, enfim, de todas as maneiras e feitios… Sem sucesso. «A instalação falhou. Tente novamente». Em desespero liguei para um call center a milhares de quilómetros e, apesar do meu esforço para me exprimir em inglês e da simpatia de quem me atendeu na Índia ou no Bangladech, ao fim de alguns minutos fiquei a saber que o meu problema tinha de ser resolvido de outra forma. Por isso fui dormir.

No dia seguinte, à hora de abertura, estava à porta da loja com duas caixas debaixo do braço: a do computador e a do processador de texto. Porém, informaram-me que o problema era da responsabilidade da Microsoft, não do equipamento, pelo que me aconselharam a regressar a casa e a contactar o centro de atendimento em Portugal. Assim fiz: um atencioso funcionário com sotaque do norte entrou remotamente no meu computador, alterou uma definição qualquer esotérica e instalou finalmente o software de processador de texto.

Isto das tecnologias é um pouco como a mudança de ano: quando começamos a habituar-nos à ideia de que vivemos em 2015 apercebemo-nos de que o ano está a chegar ao fim. Com os softwares passa-se o mesmo. Assim que dominamos um programa e até já conseguimos fazer uns truques, aparece uma nova versão para nos baralhar as contas.

Afinal para que precisamos de tantas atualizações? A verdade é que não precisamos. Mas pelos vistos as empresas e os funcionários que desenvolvem estes programas precisam. A sua função na sociedade parece ser apenas uma: estar constantemente a congeminar novidades para nos obrigar a comprar a última versão ou o último modelo – e nos complicarem a vida.

Ligo o PC e aparece uma mensagem no ecrã. «Estamos a trabalhar nas atualizações. Por favor aguarde». É preocupante, porque eu não pedi atualização nenhuma. O computador parece ter ganho vontade própria. Ao fim de um bom bocado, quando finalmente consigo abrir o processador de texto e me consolo com a perspetiva de descarregar a minha fúria martelando nas teclas, aparece um anúncio: «Conheça o novo Windows 10». Mas qual Windows 10, qual quê! Ainda estou a tentar perceber como funciona o 9 e já querem impingir-me um novo? Neste instante ocorrem-me duas hipóteses: ou vou buscar uma chave inglesa e uso-a indiscriminadamente ou chamo os meus filhos e eles serão ainda mais rápidos a resolver o assunto.

O novo Word, quando finalmente o consigo abrir, revela-se mais confuso do que aquele a que eu estava habituado. Para abrir uma folha em branco são precisos três passos em vez de um. Mas até tem algumas funções simpáticas. Pelo menos é isso que acho, até que ocorre um problema e o documento em que estava a trabalhar se perde. Tenho a certeza de que na versão antiga, da época em que os programas tinham cd de instalação e o computador não fazia atualizações automáticas, nada disto acontecia.