Luís Montenegro: ‘Vamos lutar para ter mais de 116 deputados’

O candidato da coligação PSD/CDS admite que o adversário no distrito de Aveiro é bem preparado, mas acredita que vai sofrer uma derrota política muito significativa. Luís Montenegro exclui para já a sucessão a Passos Coelho porque diz que a questão da liderança do PSD não se colocará nos próximos 6 anos.

Nasceu e cresceu no distrito. Qual é a ligação que mantém com Aveiro?

É enorme, a minha mulher e os meus filhos continuam a morar em Espinho e vou a casa todos os fins de semana. Só profissionalmente é que sempre exerci advocacia no Porto. A minha vida familiar, social e política é em Espinho. Eu e os restantes sete deputados do distrito temos quase todos os fins de semana atividades políticas e participamos em eventos ligados a instituições e autarquias.

Segundo o Censo de 2011, Aveiro estagnou em número de habitantes depois de um crescimento de décadas. O que propõe fazer para que o distrito cresça?

A principal medida para aumentar a natalidade é a criação de emprego e a dinamização da economia. Felizmente, em Aveiro tem havido uma forte ligação da universidade com o meio empresarial, estamos num dos distritos mais empreendedores do país e penso que é possível voltarmos a ter aqui um crescimento demográfico nos próximos anos, com uma economia mais competitiva e a gerar mais emprego. Temos vários concelhos onde a taxa de desemprego é bem inferior à nacional (alguns abaixo dos 10%), temos uma indústria muito vocacionada para os setores exportadores e, portanto, também mais sustentável do ponto de vista da afirmação do negócio.

É preciso compensar o interior do distrito pelo maior investimento no litoral?

Sim, sobretudo ao nível das acessibilidades porque há uma discriminação que prejudica os concelhos do interior, em particular Castelo de Paiva, Arouca e Sever do Vouga. São os que têm mais dificuldades e por  essa razão menos possibilidades de terem investimentos. É a partir das acessibilidades que tudo o resto se consegue reequilibrar, quer do ponto de vista da economia quer dos serviços públicos.

O que é um bom resultado em Aveiro?

É esta coligação eleger 10 dos 16 deputados (o PSD tem oito e o CDS dois). Mas tentaremos mais do que isso, para termos uma maioria no Parlamento.

Convença um indeciso a votar.

Ainda hoje, nas feiras de Espinho e na 28 de Aveiro, tive a oportunidade de dialogar, com várias pessoas que se disseram indecisas e tenho feito um esforço para as motivar a ir votar.  Tenho procurado sensibilizá-las de que é preciso não se desperdiçar o caminho que percorremos nos últimos anos e que é necessário dar-se uma solução estável de governo. Na rua, parece-me que o nível de indecisos é muito inferior ao que as sondagens dizem. E tenho um feeling de que teremos uma abstenção inferior à que tivemos há quatro anos. Não tenho dúvidas de que a grande maioria dos aveirenses vai votar nesta coligação e nós vamos dar um contributo muito importante para podemos renovar a nossa maioria no Parlamento.

Que maioria prefere? Inequívoca, clara, boa, grande, positiva…e que tal absoluta?

Todas essas definições querem dizer a mesma coisa: termos mais de metade dos deputados. Ou seja, é de 116 deputados para cima. O que é importante dizer é que não queremos ter nenhum poder absoluto.

Se a coligação ganhar, conta com o partido derrotado para aprovar o Orçamento do Estado para 2016?

Vamos lutar até ao último minuto para ter uma maioria no Parlamento. Se não tivermos, teremos depois de ver nessa ocasião o tipo de apoio parlamentar que o governo poderá ter. Pior do que isso é sabermos que o secretário-geral do PS tem uma nova birra que é, num cenário desses, inviabilizar qualquer orientação fundamental para o país como seja o OE. Só enfraquece e fragiliza aquilo que podia ser a posição do PS. Espero que os eleitores, a partir dessa predisposição do PS, possam evitar o problema – e isso significa dar a maioria ao PSD e ao CDS.

O PS não tem melhores condições para governar sem maioria absoluta, já que terá mais facilidade em fazer pontes com outros partidos?

Por aquilo que vejo, pese embora as manifestações de potencial namoro, o PS tem uma grande dificuldade em fazer acordos com quem quer que seja. Com o PSD e o CDS até já disse que votava contra o OE e porventura rejeitaria até o programa de governo no Parlamento. Com o PCP e o BE, se isso acontecesse seria um forrobodó semanal entre o que são eventuais aproximações mas sobretudo muitas distâncias que todas as semanas  vêm a lume entre estes partidos. A grande verdade é que os únicos partidos que têm tido capacidade de se entender e dar uma solução conjunta e sólida é o PSD e o CDS.

Se as condições o exigirem, depois do dia 5 de outubro, estará disponível para liderar o seu partido?

Essa questão não se coloca, nem vai haver essas condições. O PSD está muito bem liderado e creio que nos próximos cinco ou seis anos não terá problemas de liderança.

Se António Costa, perder deve ‘passar a bola’ a Pedro Nuno Santos?

Com o histórico recente, nomeadamente a forma como o atual secretário-geral entrou, presumo que será muito complicado haver coesão interna no PS. Acredito que essa possa ser uma possibilidade, mas não será uma altura muito fácil para o meu estimado amigo Pedro Nuno Santos porque ele também sofrerá no distrito de Aveiro uma derrota política muito significativa.

Conhecem-se bem do Parlamento. Qual o principal trunfo que reconhece ao seu adversário e qual a maior dificuldade?

A maior fragilidade dele foi ter tido uma radicalização política que ficou muito patente quando assumiu que não devíamos ter uma estratégia política de pagamento da dívida, ou mais recentemente por ter sido um dos subscritores do manifesto europeu de apoio à candidatura do Syriza nas eleições de janeiro. Mas não deixo de reconhecer que se trata de uma pessoa com qualificação e inteligência. É um adversário que tentamos sempre vencer no campo da argumentação mas que é bem preparado.

sofia.rainho@sol.pt