Svetlana Alexievitch vence Nobel da Literatura

As casas de apostas provaram estar certas. A jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich, que encabeçava a lista da britânica Ladbrokes, venceu o Nobel da Literatura 2015.

A Academia justificou a escolha classificando a sua escrita como “um monumento polifónico ao sofrimento e à coragem no nosso tempo”. E Svetlana torna-se, assim, a 14.ª mulher a receber a distinção (que já foi entregue 112 vezes). Depois do anúncio do prémio, Sara Danius, secretária permanente da Academia (a primeira mulher a ocupar o posto), contou que, quando ligou à jornalista para lhe dar a notícia do prémio, esta reagiu com apenas uma palavra: “Fantástico”. E, sobre o facto de Svetlana não escrever ficção nem poesia, disse que a autora, “uma escritora extraordinária”,  inaugura um novo género literário, escrevendo não uma “história de factos mas uma história de emoções”, na qual os acontecimentos históricos, como o desastre de Chernobil ou a guerra soviética no Afeganistão, são apenas pretextos para explorar os indivíduos soviéticos e pós-soviéticos. Para a secretária, a escritora, que entrevista centenas de crianças, mulheres, “oferece uma história do ser humano, uma história de emoções e uma história da alma”.

O Fim do Homem Soviético, único livro editado em Portugal

Nascida em 1948, na Ucrânia, filha de pai bielorrusso e mãe ucraniana, Svetlana cresceu na Bielorrússia, tendo trabalhado como jornalista desde que deixou a escola. O seu primeiro livro, traduzido para inglês como War’s Unwomanly Face, editado em 1988, vendeu milhões de exemplares, contando a história das mulheres soviéticas (quase 1 milhão) que ingressaram na frente de combate durante a II Guerra Mundial. A viver em Minsk, não foram raras as vezes em que a jornalista, uma voz crítica do regime, se teve que afastar do seu país, tendo já vivido em países como Itália, França, Alemanha e Suécia.

Em Portugal, a jornalista tem apenas publicado um livro, O Fim do Homem Soviético, que, vencedor do Prémio Médicis Ensaio e eleito pela Lire como o melhor livro do ano em França em 2013, foi editado este ano pela Porto Editora. Vozes de Chernobil (titulo provisório) será publicado pela Elsinore em 2016 e, nos próximas dias, é quase certo que a tradução de novos títulos será anunciada.

Para tras, na escolha da Academia, ficaram uma vez mais nomes como Philip Roth ou Haruki Murakami, há tantos anos dados como favoritos, mas que parecem estar condenados a não ganhar. Tal como a língua portuguesa também vai ter que esperar. António Lobo Antunes continua candidato – e em bom lugar nas listas de apostas – e Mia Couto faz-lhe agora companhia, tendo-se perfilado como um forte candidato depois de vencer o Neustad no ano passado. São misteriosos os desígnios da Academia. Mas um bocadinho menos imprevisíveis este ano.

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Lusa/SOL