Bloco duplica votos e passa PCP

Há dois meses, as sondagens colocavam o Bloco de Esquerda na casa dos 5% das intenções de voto e a coligação PCP/PEV a ultrapassar os 10%. O que apenas confirmava dados anteriores: nas legislativas de 2011, o BE ficara reduzido a 5,2% e 8 deputados enquanto o PCP alcançava o dobro dos deputados e 7,9%;…

Poucos adivinhariam que esta relação de forças dos partidos à esquerda do PS se inverteria por completo em vésperas das eleições legislativas, traduzindo-se, na noite de 4 de outubro, por uma expressiva duplicação de votantes no Bloco que lhe permitiu ultrapassar mesmo o PCP.

Em grande parte graças à enérgica e eficaz campanha de Catarina Martins, que se destacou nos debates televisivos, o BE ascendeu a terceira maior força parlamentar, com 19 deputados (mais do que duplicou o total da sua bancada), à frente do CDS e do PCP. O Bloco subiu de 5 para 10 os distritos onde tem eleitos (com particular destaque para a inesperada estreia na Madeira – onde obteve uma das suas melhores votações, a par do Porto e de Braga).

Aumentou, também, em mais de 260 mil votantes a sua base eleitoral (indo captar 120 mil à coligação PSD/CDS, mais de 80 mil ao PS e 50 mil à abstenção).

A constância do voto PCP

No confronto particular entre o BE e o PCP, Catarina Martins sai destas eleições em clara vantagem sobre Jerónimo de Sousa.

Na malha eleitoral do país, o Bloco surge à frente do PCP em mais de 77% dos 308 concelhos. O BE tem supremacia em 238 concelhos e o PCP só domina em 69, quase todos no Alentejo e Ribatejo (com a curiosidade de haver um empate entre ambos num concelho, em Santa Cruz das Flores, nos Açores).

Outro contraste marcante entre os dois partidos é a grande variação do número de votantes do Bloco de eleição para eleição, enquanto o PCP mantém uma constância que chega a impressionar: teve 446 mil votantes em 2009, 440 mil em 2011, 416 mil nas europeias de 2014 e agora 444 mil. Já o BE oscila entre os 148 mil nas europeias, os 288 mil em 2011 ou os presentes 549 mil. O PCP regista, aliás, transferências de voto mínimas no seu gráfico.

Não menos significativo é o facto de os comunistas registarem os piores resultados relativos na sua zona de influência: Beja, Évora e Setúbal (além das ilhas dos Açores e Madeira). As suas melhores votações aparecem a norte, no Porto, Viseu e Castelo Branco.

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