EUA com falta de trabalhadores no setor automóvel

Normalmente quando uma indústria está em crescimento, e paga bem, não faltam pessoas em busca de emprego. Mas isso não está a acontecer no setor automóvel nos Estados Unidos, onde as marcas já mostram o que fazem a crianças de seis anos.

Segundo uma reportagem do jornal Automotive News, tanto os construtores como os concessionários, e mesmo os governos estaduais americanos, estão constantemente à procura de ideias para cativar os jovens. Mesmo em Detroit, o coração da indústria automóvel dos EUA.

O jornal cita dados do Gabinete de Estatísticas de Trabalho no país, que avança que só mecânicos serão precisos mais 60 mil em 2022 face ao total de 2012. E estima que desde o ano passado já tenham sido contratadas 46 mil pessoas para as fábricas em geral.

E não é só a necessidade de ir promover o emprego nas camadas jovens. O Automotive News lembra que um trabalhador especializado de 40 anos estará a caminho da reforma daqui a 20 anos, pouco tempo para a indústria automóvel. Principalmente quando as estatísticas mostram que, no ano passado, apenas um décimo dos trabalhadores americanos do setor automóvel tinham menos de 24 anos, ao passo que dois décimos tinham mais de 55 anos. E aqueles que continuam a trabalhar após os 65 anos eram o dobro dos que começavam a atividade antes dos 20.

O objetivo passa então por ‘apanhá-los novos’. A Honda organizou este mês visitas de estudo de alunos do secundário para a sua fábrica de Lincoln, no Alabama. É lá que a marca japonesa produz o SUV Pilot e o monovolume Odyssey.

E em Princeton, no Indiana, onde trabalham 5.000 pessoas na fábrica da Toyota, a maior fabricante mundial já está na fase seguinte, que passa por fazer apresentações regulares nas escolas secundárias da região. «Ninguém quer ser técnico automóvel, e podem ganhar 100 mil dólares por ano», lamentou ao Automotive News Leah Curry, vice-presidente da fábrica que monta SUV Highlander e Sequoia da marca japonesa.

Outra tática da Toyota passa por anúncios de televisão nos canais regionais ou nas sessões de cinema das salas locais. E mesmo internamente a marca lembrou-se de fazer uma campanha de promoção, quando os responsáveis perceberam que os filhos dos trabalhadores ou outros familiares jovens também não faziam ideia do que se fazia na fábrica.

A Honda do Alabama teve outra iniciativa ainda mais ‘ousada’ este ano. Em maio, montaram um evento num fim de semana onde trabalhadores da Honda e de fornecedores locais, professores de escolas profissionais  e alguns mecânicos e outros especialistas em corridas tentavam mostrar o seu trabalho a famílias inteiras.

No espaço havia carros de corrida verdadeiros e outras atrações, mas também uma tenda com bancadas que simulavam o trabalho da fábrica. Mesmo crianças de seis anos foram convidadas a experimentar apertar parafusos e juntar peças de motor. Tudo para tentar garantir trabalhadores daqui a 10 ou 15 anos.

Este ano, segundo o jornal especialzado do setor, espera-se que só nos Estados Unidos sejam vendidos mais 17 milhões de automóveis, com o crescimento a prolongar-se em 2016. E apesar do investimento em fábricas no estrageiro, o país continua a produzir muitos veículos para exportação. Construir, vender ou reparar carros nos EUA são profissões com futuro.

emanuel.costa@sol.pt