Maria Luís nega ‘contas ocultas’ e faz um pedido ao PS

Três dias depois de ter sido alvo das acusações de António Costa de que o governo está a esconder más surpresas nas contas públicas, a ministra das Finanças vem dizer que, mesmo se o quisesse, não conseguiria ocultar a realidade.

“As nossas contas são de tal forma escrutinadas, por várias entidades, que seria impossível ter contas ocultas”, disse Maria Luís Albuquerque em entrevista à SIC. A ministra declarou também que a coligação continua disponível para fazer cedências ao PS, mas primeiro é preciso que o PS revele o que quer obter da coligação PSD/CDS.

O resultado das legislativas mostrou que “os portugueses querem que a coligação continue a governar mas que faça entendimentos com o PS”, defendeu. Por isso, PSD e CDS continuam disponíveis para “fazer cedências”. Mas para isso, contra-atacou, é preciso “saber o que o PS quer”.

A disponibilidade para entendimentos que revelou que ainda existe não evitou as críticas duras a António Costa. A ministra das Finanças, que foi cabeça de lista da PàF nestas legislativas, diz-se preocupada por as reuniões com o PS não terem sido "de negociação" e chegou até a questionar a “boa-fé” dos socialistas no processo. “Não há até ao momento intenção do PS de chegar a acordo”, disse esta noite na SIC.

Considera porém que a negociação é “urgente”, para haver condições de governabilidade que evitem a degradação da situação económica. “É muito rápida a deterioração da situação do país”, justificou, porque numa situação de instabilidade “o dinheiro fica mais caro”, cai a confiança e também o investimento e a recuperação no emprego “recua”.

Ao longo da entrevista, por quatro vezes repetiu que tendo sido a coligação a força mais votada nas legislativas “é natural que seja chamada a governar”. E justificou a repetição: “nem toda a gente percebeu”.

Na última sexta-feira, António Costa havia afirmado na entrevista à TVI que a coligação não tinha fornecido ao PS os dados que os socialistas exigiam para negociar. Maria Luís contesta e diz que na reunião que teve com o Mário Centeno, o economista do grupo de negociação do PS, disponibilizou tudo o que podia. “(Demos) a informação macroeconómica que temos disponível”, declarou.

O nome de Centeno foi referido por Maria Luís quando negou estar a esconder as contas do PS. “Não faço ideia”, foi a sua resposta quando questionada sobre o que podia estar em causa. O Governo não esconde dados não só porque não quer, retorquiu, mas porque perante o escrutínio do Parlamento (que tem “acesso direto às bases de dados” através da UTAO) e de outras entidades, nacionais e europeias “seria impossível ter contas ocultas”.

António Costa tinha deixado no ar a suspeita, com a alusão às “más surpresas” que os portugueses conheceriam em breve, de que o défice de 2015 ficaria por cumprir. A ministra contrapõe: “Continuamos a trabalhar para 2,7% e ficará claramente abaixo dos 3%”.

Quanto à venda do Novo Banco – outra fonte possível de agravamento das contas do Estado – esclareceu que o Governo está a tentar a “venda o mais depressa possível” depois de ter falhado o prazo para o negócio, contudo “não é ao desbarato” que o negócio se fará.

Já o BANIF, banco que também teve intervenção pública, está em ‘stand by’. Depois de feita a intervenção de 2013, o Governo ainda aguarda a aprovação do plano de reestruturação pela Autoridade da Concorrência, disse a ministra.

manuel.a.magalhaes@sol.pt