O tempo da beijoquice

Durante o noticiário de domingo, a TVI deu uma mini-festa de despedida ao seu comentador mais querido, Marcelo Rebelo de Sousa e, ao fazê-lo, criou um novo género televisivo: o reality infotainment.

A informação e o entretenimento estiveram presentes nos 38 minutos em que Marcelo partilhou histórias ao vivo do seu passado. Seis pivôs foram convidados e explicações galhofeiras foram dadas sobre caixas desaparecidas. Uma alegria com muita audiência. Foram aliás mais os que quiseram assistir à despedida de Marcelo do que ao seu comentário semanal. A tristeza virá no próximo domingo. Vamos ficar um pouco órfãos, mas como diria Sócrates, parafraseando o Eclesiastes, há um tempo para tudo. Para Marcelo, chegou o tempo de deixar alunos e Judite para trás. Resta saber se chegou o tempo de Belém e se Marcelo conseguirá manter três meses de beijinhos sem afastar metade da população. A pré-campanha de proximidade extrema não é boa para hipocondríacos.  

Atenção plena

Uma reportagem no programa 60 Minutos sobre Mindfulness, conceito que aparece traduzido por ‘atenção plena’, fez-me pensar noutro conceito pouco traduzido e que pode ter estado na sua origem: o Multitasking. São aqueles que mais se dispersam e que por consequência menos se concentram numa tarefa que precisam de meditar e de voltarem a encontrar uma certa ‘consciência de si’, o que quer que isto queira dizer. Na verdade, a atenção plena ou a tomada de consciência de que não somos feitos de bocados separados é o tratamento para um estilo de vida cada vez mais caótico e exigente. A tecnologia parece não estar a ajudar à concentração e até funcionários da Google assistem a cursos de Mindfulness e fazem meditação para acalmar, ouvir a respiração, etc. A atenção plena é a resposta à desatenção total provocada pela realização de inúmeras tarefas ao mesmo tempo mais os computadores e os telemóveis. A doença é deprimente mas a cura é uma grande seca.

Se tudo acabar bem

Comecei a ler com entusiasmo um artigo na New York Magazine que tinha como título: ‘Ver boas séries de televisão faz de nós pessoas melhores?’. Não só era promissor como confirmava as desculpas para não perder as ótimas séries que a televisão nos oferece. Claro que desenvolvem a empatia, fazem-nos ver as diferentes perspetivas de problemas emocionais, estimulam a inteligência emocional. Como se não bastasse, a mesma conclusão também se aplicava aos romances. Era o paraíso comprovado: ler e ver boa televisão fazem bem! O problema é que os resultados do estudo são duvidosos por causa das alternativas. As pessoas que participaram foram estudadas de acordo com o que viram: Mad Men e um documentário chamado Ataque dos Tubarões Assassinos. No caso da leitura, tivemos Tchekóv versus artigos científicos do Smithsonian. Assim não vale. Lá se vai mais um estudo para o caixote das inutilidades, mas continuo a estar de acordo com as conclusões.   

Happy birthday to…

Uma mulher de 84 anos que não é licenciada em Medicina ganhou o Premio Nobel pelo tratamento da Malária. A chinesa Youyou Tu, ou Tu Youyou, como é referida por pessoas que parecem saber mais a respeito de nomes chineses, era estudante de farmacologia quando na década de 60 integrou um projeto secreto para descobrir a cura para a malária. A equipa que liderou fez descobertas relevantes em textos datados de 400 d.C. que levaram à criação de um fármaco que hoje combate eficazmente a doença e salva milhões de vidas. Uma breve polémica pareceu ensombrar a importância desta extraordinária descoberta. O comité do Nobel foi obrigado a explicar que não estava a premiar a medicina tradicional chinesa mas a capacidade de Youyou Tu ter usado técnicas científicas para extrair o ingrediente necessário da planta mencionada nos textos antigos para produzir um medicamento. Ninguém quis saber deste assunto porque o nome da investigadora era mais divertido.

Enganei-me

O dia do juízo final é um tema levado a sério por pessoas de fé. Começou por ser repetidamente proclamado por judeus e cristãos. No primeiro milénio depois de Cristo, várias seitas cristãs, tanto ascetas como hedonistas, proclamaram que o fim do mundo estava próximo. Depois do século XI, estas seitas dispersaram-se e, com exceções, desapareceram. Mas nunca faltou um ou outro profeta a anunciar que o fim do mundo estava para breve. Em 1999, até os ateus acreditaram no colapso dos computadores, do sistema financeiro e do que fosse dependente da tecnologia. Tudo por causa do início de um novo milénio. Mas a estirpe ainda se mantém. O Washington Post fala de Chris McCann, líder da seita cristã online eBible Fellowship, que anunciou o apocalipse para dia 7 de outubro. Lá teve de se desculpar, mas insistiu que o fatídico dia está próximo. Segundo o jornal, os seguidores destes catastrofistas não têm dificuldade em perdoar-lhes o erro. Haja Deus.