Ir a jogo no campeonato infantil

A energia de Nuno Camarneiro é contagiante, mesmo numa manhã chuvosa. Animado, é rápido a dizer que o seu último ano foi cheio de coisas boas, a antecipar com bons olhos o que aí vem, satisfeito com o que tem agora em mãos. Em vésperas de ser anunciado o vencedor do Prémio Leya 2015, o…

Exclusividade que não se estende aos géneros. Este ano, o autor publicou o livro de contos Se Eu Fosse Chão e viu subir ao palco uma peça assinada por si, Ainda Hoje era Ontem, na Universidade Coimbra. “A juntar-se a este livro infantil, são tudo experiências inaugurais”.  Não Acordem os Pardais, ilustrado por Rosário Pinheiro, é o primeiro livro que escreve para crianças. “Passo muito tempo a conversar e a disparatar com os filhos dos meus amigos. Gosto de brincar com eles, de desfazer as coisas que os pais lhes dizem. Gosto do absurdo natural que as crianças têm. Quis fazer um livro infantil sem qualquer preocupação de ser didático ou  tradicional, brincar com esse imaginário infantil”.

O resultado é a história  de uma menina, Rita – inspirada na irmã do autor,  Rita Camarneiro, dez anos mais nova  – que tem medo do papão, que não queria ser papão mas aviador mas que, como era muito baixinho, só dava para papão. História que serviu ao autor para falar de temas que lhe interessam, como o medo ou a curiosidade. E apesar da linguagem usada ser mais simples que o habitual, em nada simplificou os conceitos ou a história.

Nos próximos tempos, Nuno Camarneiro planeia andar pelas escolas. Não só no âmbito  dos ciclos de divulgação científica que tem vindo a fazer com a Universidade de Aveiro (em novembro arranca ‘Para que Serve?’), como com Não Acordem os Pardais. Será a prova dos nove, onde vai enfrentar o público mais ‘feroz’: as crianças e a sua sinceridade. “É algo novo para mim e que me assusta. Ou gostam ou não gostam. O que é interessante,.. Certos pruridos que os adultos podem ter ali não existem. Mas não tenho medo de desafios, vamos a jogo”.

Com todos estes projetos, o romance em que já estava a trabalhar ficou em suspenso. Agora, e apesar de ter também em curso uma tradução do francês, é tempo de o retomar. “Estou no processo de voltar a olhar para ele, saber se o quero, e se sim, se quero ficar com tudo o que lá está. Antes de começar a escrever passo muito tempo a ler outras coisas, a planear o tipo de história e os temas que me interessam tratar. São alguns meses em que angario ideias. A partir do momento em que começo a escrever não há grandes retrocessos, não abandono a obra. Mas, neste caso, como houve uma interrupção, não sei bem como vai funcionar. As coisas que escrevemos envelhecem muito rapidamente. Não porque já não gostemos delas mas porque já não as sentimos como nossas”  

rita.s.freire@sol.pt