Deputado ‘special one’

É primo direito de um dos portugueses mais conhecidos do planeta. E esse facto já se lhe colou politicamente: “O nosso Mourinho”, diz-se no PS.

O ‘special one’ dos socialistas é Ricardo Mourinho Félix, que acha “normal” que a imprensa lhe esteja a dar atenção por ser filho do irmão de Félix Mourinho, antigo guarda-redes do Vitória de Setúbal e pai do truculento e bem sucedido atual treinador do Chelsea.

Mas até há coisas mais interessantes para contar deste homem que é um dos 81 deputados que hoje se sentam pela primeira vez no hemiciclo da Assembleia da República.

Para começar, e continuando na senda dos ‘famosos’, deve a ocupação profissional que teve até ontem ao antigo ministro das Finanças da coligação PSD-CDS, Vítor Gaspar.

Mourinho Félix era um jovem economista, com a melhor média da sua licenciatura e há meses saído de um estágio no Banco de Portugal, quando recebeu um telefonema de Gaspar a convidá-lo para integrar os quadros do banco central, mais precisamente no Departamento de Estudos Económicos. Ali esteve durante 17 anos – desde 1998 – com uma interrupção de dois (2000/2001) em que foi adjunto de Fernando Pacheco, o secretário de Estado do Orçamento no Governo de António Guterres. No BdP trabalhou em previsões económicas e, desde 2004, em funções de chefia.

A saída tempestuosa de Gaspar do Executivo, com quem foi mantendo uma “boa relação”, apesar de “esporádica”, não o traumatizou em relação à política. Aliás, “foi mais uma motivação” para quem ia despertando para a necessidade de haver mais responsáveis “com perfil mais técnico” na gestão da ‘coisa pública’.

Frisa que não concorda com “muitas medidas” que o antigo chefe adotou enquanto ministro das Finanças. Aliás, tem “altas dúvidas que até Gaspar concordasse com tudo o que teve de implementar”.

Enquanto elemento do BdP fez parte da equipa que negociou com a troika. E aqui impressionou-o a “carestia de meios técnicos” que afligia o lado nacional da negociação. A experiência com a troika foi o impulso que faltava a este militante do PS desde os 18 anos.

Ultrapassou o “desencanto” que viveu com o fim do Governo Guterres e, a convite de António Costa, voltou à militância ativa.  Agora, pertence à equipa técnica do PS que está a negociar com BE e PCP a possibilidade de um governo liderado pelos socialistas. Defende a opção de Costa. “O arco governativo, para mim, é o Parlamento”.

Uma aliança com o PSD seria uma espécie de “suspensão da democracia”, considera, onde, face a um bloco central, “à mínima dissensão se assistiria ao crescimento dos extremos”, como tem acontecido em países da Europa. Diz que nesta fase está disponível para tudo em que “for útil”. Governo incluído? “Não afasto, mas foi a deputado que me candidatei”.

De volta a Mourinho, ao José, tem com um primo uma normal relação familiar. “Mas ele tem mais 10 anos do que eu, não brincámos juntos”, explica.

Ricardo só tem jeito para o desporto “na perspetiva do utilizador”. Vai vendo os jogos mais importantes do Chelsea e para não se esquecer deles, agenda-os no telemóvel. Não tem “devoção por futebol”. O seu campo é outro.

teresa.oliveira@sol.pt