António Costa é passado

Cavaco Silva vai esgotar todos os seus recursos para viabilizar o governo liderado por Passos Coelho. Na sua comunicação ao país o Presidente da República deixou claro que não empossará (em qualquer circunstância) António Costa. Cai assim por terra a possibilidade de uma coligação de esquerda, cai por terra também a estratégia de sobrevivência, verdadeira…

O Presidente da República foi o pecado original de toda esta embrulhada. Amarrou-se às suas ideias, mas conseguiu num arriscado golpe de rins sair do aparente beco sem saída. Resta-lhe agora, se o governo de Passos for derrubado no Parlamento, duas hipóteses: governo de gestão, pouco provável, ou um governo de iniciativa presidencial. Aposto na segunda hipótese, a seu tempo o comprovaremos.

António Costa ficou à porta da história. Nela não entrará. Era a única figura da República que podia chegar a primeiro-ministro depois de perder umas eleições. E poderia tê-lo feito unindo comunistas e extrema-esquerda num projeto de poder. O maior derrotado teria conseguido transformar uma derrota humilhante numa tomada de poder revolucionária. Um golpe de Estado dentro da legalidade. Um jogo que não se sabia como poderia terminar, apenas como começaria. Foi por pouco, cheguei a achar que teria sido possível, não será possível.

Quanto a Passos Coelho será primeiro-ministro. Deverá cair no Parlamento se Costa levar a sua adiante e votar coerentemente com o que tem dito. Perdido por cem, perdido por mil. No entanto, aconteça o que acontecer, o PSD está próximo de uma maioria absoluta em 2016. Culpa deste PS que pagará com língua de palmo o desvario.

Quem não deve estar aliviado é Paulo Portas, pode ser uma má notícia para o PP. É um dos mais fragilizados nesta história. Numas próximas eleições, o PSD poderá concorrer sozinho e Passos pulverizará a votação. O CDS arrisca-se a ser descartado pois a força de Passos será brutal para todos os que desejem crescer entre as migalhas que deixar. Não é por acaso que Portas é o que mais parece temer a palavra que o destino lhe continua a soprar: irrevogável.

Chegados aqui, será tempo de encontrar soluções. E de concluir que o poder é uma droga tão ou mais poderosa do que as mais duras dependências. É fascinante perceber o que uma pessoa pode fazer para ter o poder; sabendo que com isso ganhará inimigos para si e para os seus, sabendo que nunca mais terá tranquilidade, mesmo assim faz o que é preciso para lá chegar. Justificam com o país, com o interesse da República, com a bondade das suas ideias em comparação com as ideias dos outros. Mas o que está em jogo é sempre a pulsão individual, a ambição, o jogar xadrez com o diabo, como no filme de Bergman. Neste caso, o jogador com o cálice nas mãos foi António Costa. Terá ele a coragem de jogar até ao fim? Chegado aqui terá de o fazer. O cálice bebe-se sempre até à última gota. As contas fazem-se no final e Costa sabe-o. A sua esperança é que a fatura lhe seja apresentada apenas numa próxima vida, não nesta. Mas é uma esperança ténue. Costa é passado. Assis que fale ao PS. Ele é o senhor que se segue.

luis.osorio@sol.pt