O primeiro sinal claro de que esse será o caminho está precisamente na formação deste Executivo. Apesar de recorrer sobretudo à prata da casa – de ex-governantes deste último Governo a deputados do PSD –, Passos quis dar novidades neste novo Executivo: e elas correspondem a reivindicações do PS.
O Ministério da Cultura – que aqui aparece como sendo também da Cidadania e da Igualdade – e o Ministério da Modernização Administrativa são reivindicações de Costa, que reclamava a existência destas duas novas estruturas na orgânica de um novo governo.
O sinal está dado: Passos Coelho mostra que estava disponível para o “diálogo”, como tantas vezes repetiu antes e depois das eleições legislativas.
Um programa de Governo mais próximo do PS
A estratégia não deve, porém, ficar por aqui, como se retira das palavras do vice-presidente do PSD, Marco António Costa, que este fim de semana voltou a lembrar que é mais aquilo que une do aquilo que separa os programas da coligação e do PS, falando em “pontos de contacto” entre as ideias de um e de outro lado para a governação do país.
“Os nossos programas, em muitos pontos, são conciliáveis, o que não são conciliáveis são os programas do PS, do BE e do PCP, a não ser num arranjo oportunista de querer chegar ao poder de qualquer maneira e de criar uma condição de bloqueio ao respeito do resultado eleitoral de 4 de outubro”, frisou Marco António.
Na coligação recorda-se, aliás, que uma coisa é o programa eleitoral outra será o programa de Governo. E, na sequência do discurso de Cavaco Silva, na PàF prepara-se um programa governativo que não seja fácil a António Costa rejeitar.
Cavaco dizia na sexta-feira que “o programa do PS é muito compatível com o da coligação”. E Passos Coelho e Paulo Portas vão tentar que isso seja o mais evidente possível, para que Costa fique na fotografia como alguém que quis deitar abaixo o Governo não por ter ideias muito diferentes, mas pela “sede de poder” que o líder do CDS já disse haver nos socialistas.
Já a pensar em eleições
Esta é uma estratégia de fundo. A ideia não é aguentar um Governo que já tem uma moção de rejeição anunciada pela maioria no Parlamento. O objetivo é puramente político e a pensar no médio a longo prazo.
Com a instabilidade política que se vive e sem saber ainda se haverá um governo de esquerda liderado pelo PS ou um governo de gestão até às eleições antecipadas que só poderão ser marcadas depois de abril, a direita quer que o eleitorado veja na PàF uma força dialogante ao mesmo tempo que tenta colar Costa à imagem de quem tem uma “ambição pessoal (…) que quer sobrepor a sua ambição aos interesses nacionais” – como disse já este domingo Marco António Costa.