Um sintoma

É possível que seja tarde para falar sobre a saída de Eduardo Barroso do programa Prolongamento, na TVI 24, mas o tema é demasiado interessante para ser esquecido só porque não aconteceu ontem. O tema não é naturalmente a saída em direto daquela pessoa em particular, mas o que leva um adulto a não conseguir…

Nada fazia prever o desfecho, porque Eduardo Barroso não deu a entender que não suportava o seu colega de programa, Pedro Guerra. Havia animosidade, mas nada de particularmente relevante, ou melhor, evidente, que nos levasse a pensar que a relação estava assim tão mal. Foi um bocadinho como se tivesse sido Sofia Vala Rocha a sair da Barca do Inferno. Ou o próprio Nilton. Penso que devemos encarar a rutura como um sintoma e começar a contar a história a partir daí.

Dois documentários

Descobri há pouco que o modo de pesquisa no videoclube da box dá a possibilidade de vermos o filme de que estamos à procura num dos canais de televisão, desde que transmitido na semana em que é feita a pesquisa. À procura dos documentários Das grosse Museum e National Gallery, ambos de 2014, percebi que tinham sido transmitidos num dos canais TV Cine. O primeiro, um documentário de Johannes Holzhausen sobre o Museu de História de Arte de Viena, impressiona porque mostra os bastidores das obras no museu e da montagem de exposições. Mostra também reuniões de direção em que são discutidos orçamentos e assuntos terrenos. Tem a vantagem de ser breve e concentrado. National Gallery, de Frederick Wiseman, é por seu lado demasiado longo (três horas) e não inclui um pormenor que encontramos em Das grosse Museum: os nomes dos intervenientes, como guias, restauradores, até diretores. Tanto tempo de filme e não foram generosos com os participantes.

C.S.I. Oxford

As séries policiais inglesas estão mais próximas de algumas séries europeias do que das americanas, o que faz pensar por que razão não há mais séries policiais europeias tão boas como as inglesas. Há pouco, a FOX Crime transmitiu Vera. Vera Stanhope é uma inspetora quinquagenária que vive em Newcastle, no Norte de Inglaterra. Agora o mesmo canal está a transmitir Lewis, nome de outro inspetor da mesma idade, situado em Oxford. Com diferenças é como se fossem de Trás-os-Montes e Coimbra, respetivamente. Devíamos ter imaginação idêntica para inventarmos crimes mais complicados do que de violência doméstica. Não é plausível que haja tantos homicídios em Oxford, mas é um exercício saudável de narrativa policial. Outro pormenor tem que ver com os assistentes. Lewis tem um assistente interpretado por Lawrence Fox. Antes de ser polícia, estudou teologia em Oxford e passou pelo seminário católico. Nas séries americanas não são tão fascinantes.

Bond Woman

Monica Bellucci deu várias entrevistas a propósito da sua participação no papel de Bond Girl no novo 007, realizado por Sam Mendes. Ao The Guardian, há cerca de um mês, disse ao jornalista que 007 é o homem perfeito «porque não existe». Esta maneira de pensar muito pouco juvenil e profundamente atraente é o que faz de Bellucci a escolha indicada para o papel. É estranho que nunca tenha sido Bond Girl, mas há vantagens nesta representação agora. Aos 51 anos, Bellucci responde com serenidade a toda a espécie de má educação dos jornalistas, que lhe perguntam diretamente como se sente a ser a «Bond Girl mais velha de sempre». Resiste a tudo, com respostas elaboradas, e quando lhe perguntam aquelas coisas parvas que só se perguntam às mulheres, como o que come, por exemplo, como mantém a linha, Bellucci responde que adora massas e bolos e que a sua preparação consistiu em não comer massa uma semana antes das filmagens. Será a melhor Bond Girl de sempre?

Uma sociedade saudável

O jornal online Tablet publicou uma interpretação sensata sobre o surto de violência das últimas semanas em Jerusalém. O artigo tem o título ‘In Israel, Fighting Big Knives and Bad Ideas’. Os palestinianos estão a fazer aos israelitas o que os argelinos fizeram aos franceses. A mensagem era clara: voltem para França. O problema é que é um delírio pensar que os judeus vão voltar a Cracóvia ou ao Cairo ou aonde quer que seja. Assim como Israel tem de encontrar uma forma de convivência com os palestinianos, estes também têm de se convencer de que os israelitas não são uma força de ocupação, mas um povo com os seus direitos. O artigo refere a calma cívica que se vive em Jerusalém: um tribunal condenou por homicídio três palestinianos que apedrejaram um automóvel e cujos atos levaram à morte de um condutor. Há protestos de cidadãos israelitas pelos direitos civis e contra a violência policial sobre suspeitos de crimes. Israel continua o seu dia-a-dia.