Teatro sem intervalos

   

Sandra Faleiro teve um verão tranquilo, mas já sabia que precisava de ganhar forças para o que aí vinha. Uma rentrée em que os projetos se sucederiam: acaba de estrear uma peça no Teatro Nacional D. Maria II, está prestes a estrear outra no Teatro São Luiz e planeia regressar em breve à televisão. Não há queixas, apenas entusiasmo. É bom trabalhar em teatro. É bom ter trabalho em teatro.

Mas 2015 não será apenas um ano marcado pela representação. Em ambas as peças, Sandra Faleiro está atrás do palco. É dela a encenação de Entraria Nesta Sala… (na Sala Estúdio do TNDMII, até 8 de Novembro), comédia de Ricardo Neves-Neves que parte do cinema português dos anos 30 e 40 para falar sobre como viveu Portugal a II Guerra Mundial. Como? Através de uma estranha mas divertida família teatral. Quatro personagens – inspiradas em Beatriz Costa, Vasco Santana, António Silva e Maria Matos – testemunham um milagre na Costa do Castelo: a Virgem aparece e, em castelhano, ordena-lhes que partam para Berlim com o objetivo de matarem Hitler, para que reine a paz na Europa.

Tudo começou quando o TNDMII lhe fez o convite para encenar um texto português. Sandra aceitou, e desafiou Ricardo Neves-Neves a escrevê-lo. “Temos um denominador comum em termos estéticos: gostamos muito do cinema dos anos 30 e 40, desta linguagem antiga e deste tipo de comédia”, explica. Depois do tema escolhido foi tempo de avançar com a escrita. O resultado é, como diz, “um universo absurdo e louco. Um grupo de quatro personagens inspiradas em quatro atores que têm a missão de ir à Alemanha matar o Hitler. A partir daí acontece tudo e mais alguma coisa”.

Estreada a peça no dia 22 de outubro, no dia seguinte Sandra Faleiro mudou de local de trabalho. Do Rossio foi para o Chiado. É que é já no dia 11 de novembro que vai estrear, no São Luiz, a sua encenação de Jardim Zoológico de Cristal de Tennessee Williams. “Não há intervalos, é impossível. Quando acordar a 12 de novembro caio para o lado. Mas está tudo a correr bem. E estão a ser dois projetos felizes. É um grande privilégio”, diz.  

Para conseguir gerir os tempos de trabalho, Sandra Faleiro decidiu fazer os ensaios da peça do dramaturgo americano na primavera, de abril a junho. Agora já tem a peça quase montada, é apenas tempo de recuperar a memória do texto, fazer ajustes finais. De qualquer forma, esta não foi uma peça que lhe tivesse caído no colo. Jardim Zoológico de Cristal tem-na acompanhado na carreira. Fê-la no Conservatório e depois no TNDMII como atriz e agora vai, pela primeira vez, encená-la, por convite de Cucha Carvalheiro. Convite que só aceitou, assegura, por ter uma grande paixão pelo texto. “Isto dos convites é complicado. Fazer bem teatro é uma coisa muito difícil, é preciso gerir muitas energias. Ou é uma coisa de paixão ou não vale a pena”.

E se 2014 ficou marcado pela sua interpretação de Dorian Gray, e este 2015 pela encenação, o próximo ano será o do regresso ao pequeno ecrã, com Sandra a integrar o elenco de uma das próximas telenovelas da TVI. Mas não será um ano em que estará totalmente arredada do palco. “Estou a preparar um projeto para meio do ano mas depende da novela, tenho que ver os horários de gravações para ver quando consigo arrancar. Sou viciada em palco. É impossível não fazer teatro. Nem faria sentido ser atriz”.

rita.s.freire@sol.pt