Manuel Clemente: Sínodo sobre a família exige mais atenção da Igreja

O cardeal-patriarca de Lisboa disse hoje que “há um chamamento divino às famílias” e que o Sínodo realizado este mês, em Roma, exige da Igreja “mais atenção e acompanhamento das famílias”.

Manuel Clemente falava aos jornalistas sobre os trabalhos do Sínodo extraordinário que decorreu em Roma, este mês, subordinado à Família, esclarecendo, desde logo, que "o sujeito desta reflexão é a Igreja Católica", que "não está arredada do mundo", reconhecendo, porém, que "há outras propostas de família".

Do Sínodo saíram as "Preposições Gerais", entregues ao papa, e que revelam "posições muito consensuais", como o acompanhamento pastoral aos "recasados", isto é, os sujeitos casados pela Igreja Católica, que, entretanto, se divorciaram pelo Civil, e voltaram a constituir família, mas que continuam vinculados pelo casamento católico.

O cardeal-patriarca de Lisboa disse que o papa Francisco "introduziu um ritmo novo" nos trabalhos sinodais, e espera-se agora que, apesar de haver "sempre uma grande margem de imponderabilidade" do atual pontífice, este deve produzir uma Exortação Apostólica pós-sinodal.

Das conclusões apresentadas, Clemente referiu que "o que vai trazer à Igreja é uma atenção muito maior à preparação, à celebração e ao acompanhamento constante das famílias, que se querem manter no projeto católico", disse.

Referindo-se à questão dos divorciados, o eclesiástico afirmou que o cerne da questão é "a validade do vínculo", isto é, o sacramento dado no matrimónio.

Os padres — explicou o cardeal-patriarca — devem perceber se os noivos estão convictos para assumir tal compromisso.

Referindo os princípios católicos, nomeadamente o que afirma "não separe o homem o que Deus uniu", o cardeal-patriarca replicou: "Nestes casos concretos, e noutros, realmente uniu? Podemos dizer que aquele vínculo realmente aconteceu?".

Sendo assim, tem de se verificar e "há que ter muita atenção à verificação do vínculo" matrimonial, se de facto Deus uniu, sublinhou o cardeal-patriarca, que é também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.

Os divorciados "não estão fora da Igreja e podem participar ativamente, desde que não contrariem a verdade do vínculo [matrimonial]".

O único que lhes está vedado, explicou, é o sacramento da comunhão, pois "um sacramento não pode contrariar outro, mas continuam sendo batizados de parte inteiro"

O responsável da diocese de Lisboa reconheceu que estas disposições exigem "mais pessoas" a trabalhar no seio eclesial e apelou à colaboração dos leigos e das famílias católicas.

No tocante à preparação dos matrimónios, Manuel Clemente afirmou que "não é com duas ou três reuniões" que se resolve, pois cada casal de noivos deve saber o que é a proposta católica e, neste âmbito, aprofundar o seu projeto.

Manuel Clemente disse que a CEP irá abordar esta questão da preparação dos noivos, "haverá princípios gerais" comuns a todas as dioceses, mas realçou que "cada região é uma região"

"O critério da família tem de ser um critério pastoral", asseverou o eclesiástico que advertiu que "há muito trabalho para fazer", e referiu que a família católica é hoje transgeracional.

Uma questão que é também um desafio à sociedade, referiu o clérigo, que desafiou as famílias católicas a darem testemunho da sua vivência em Cristo.

Lusa/SOL