Direita anima-se com Cavaco e Jerónimo, esquerda mantém confiança no acordo

Cavaco Silva insistiu que o Governo de Passos “deve prosseguir o esforço de diálogo e compromisso com as demais forças partidárias, buscando os entendimentos necessários à salvaguarda do superior interesse nacional”. E à saída da tomada de posse do novo Executivo, o vice-presidente do PSD, Marco António Costa voltava a abrir a porta ao diálogo…

Direita anima-se com Cavaco e Jerónimo, esquerda mantém confiança no acordo

"Julgo que ainda estamos no tempo de falar em diálogo, em compromisso e na construção de soluções entre aqueles que comungam do mesmo espaço político sob o ponto de vista dos grandes objetivos nacionais”, dizia Marco António Costa depois de ouvir o Presidente da República elencar os compromissos internacionais a que Portugal está obrigado e que enfrentam resistências no BE e no PCP.

As palavras de Cavaco e a entrevista dada ontem por Jerónimo de Sousa levaram a direita a pôr em causa o bom andamento das conversações à esquerda para a formação de um governo liderado por António Costa.

"Ontem ouvi a entrevista do senhor deputado Jerónimo de Sousa e fiquei com a plena convicção que aquilo que o PS aprovou no parlamento no Tratado Orçamental o PCP parece não estar com vontade de o cumprir", frisou o vice-presidente social-democrata para voltar à tese de que é mais o que une PS, PSD e CDS do aquilo que os separa.

"É verdade ou mentira que o Tratado Orçamental, o Tratado de Lisboa, os grandes objetivos europeus foram sempre aprovados pelo PSD, PS e CDS? Estes três partidos e os seus deputados – são eles que são chamados a pronunciarem-se pelo voto na Assembleia da República – deram o seu voto para que Portugal entrasse num determinado caminho de coerência e, sobretudo, que subscrevesse um conjunto de tratados com os quais estamos comprometidos", defendeu Marco António.

O tom estava em linha com o sentimento geral na coligação à saída da cerimónia de tomada de posse do novo Governo no Palácio da Ajuda. A forma como Cavaco insistiu na necessidade de diálogo, reforçou a importância dos compromissos internacionais a que Portugal está vinculado e frisou a legitimidade de um Governo que foi eleito por maioria e que deve aspirar a durar uma legislatura foram suficientes para PSD e CDS voltarem a pôr todas as hipóteses.

“Isto muda tudo muito rápido. Está tudo em aberto. Podemos voltar ao diálogo com o PS, como podemos não voltar. Depende deles”, comentava um dirigente centrista, ao mesmo tempo que no PSD se fazia a leitura de que o discurso do Presidente voltou a pôr a pressão do lado PS, forçando-o a dialogar com as únicas forças que dão garantias de respeitar o Tratado Orçamental: o PSD e o CDS.

PS garante condições para um governo de esquerda

Pouco depois do discurso de Cavaco e do novo apelo de Marco António, o PS fechava, porém, a porta a qualquer regresso às conversas com a PàF.

"Se este Governo for derrubado, e tudo indica que sim, será substituído por uma alternativa estável e duradoura", reagiu o líder da bancada socialista, Carlos César, que desvalorizou as declarações de Jerónimo de Sousa que reafirmou ontem a recusa do PCP em respeitar o Tratado Orçamental.

César garante que PS, BE e PCP estão mais concentrados naquilo em que convergem do que nas divergências que mantêm. Mais: o dirigente do PS assegura que no que toca aos compromissos internacionais o Presidente pode ficar descansado, porque o que vale é o programa socialista.

"Em matéria de compromissos internacionais releva o que está no nosso programa", garantiu Carlos César, deitando por terra um dos principais argumentos do Presidente para resistir a uma alternativa de esquerda.

Quanto às negociações para um acordo à esquerda, César anunciou que “esses esforços estão a caminhar bem”, dando a entender estar seguro de ter um documento sólido para apresentar ao Presidente depois de o Parlamento chumbar o programa do Governo de Passos.

margarida.davim@sol.pt