Frente&Verso

Somos determinados como plasticina nas mãos de uma criança. Vamos deformando ou alisando ao longo da corrida; uma tragédia aqui, um desastre acolá, uma esperança ao virar da esquina, um instante de felicidade, uma vitória, um copo que se parte, um erro que tudo muda.

Pedimos proteção para as desgraças, saúde e sucesso, mas se somos estes, se o somos aqui e agora (este que isto acabou de escrever e esse que leu estas palavras), é porque somos a soma de tudo o que nos moldou. Tudo o que fomos e nos aconteceu. Sem o que nos entristeceu seríamos outros. E eu orgulho-me de ser este, não trocaria de vida se me prometessem aliviar as dores das quedas que tive, não me reconheceria. 

Mudar o mundo é uma ideia arrogante, mas mudar o nosso mundo é a única saída possível. Não há paradoxo. Viver sem tentar mudar o mundo, o meu e o seu, é uma capitulação de nós próprios, uma condenação por antecipação, um desatino. Quando não o fazemos tudo correrá na previsibilidade de um dia que se sucede a um outro dia, de uma noite que vem atrás de outra, de um programa de televisão, de umas compras, do mesmo restaurante de sempre, da falta de coragem para mudar de emprego, de relação e até de ideias. Mudar o nosso mundo é um ato de arrogância e de insubmissão, mas também de responsabilidade por estarmos aqui. Por existirmos. Mudar o mundo é isto, é mudar o que podemos mudar, aqui e agora. É tratarmos de nós. É não ter medo de escrever na parede, sem pressa. E com toda a pressa do mundo.l

luis.osorio@sol.pt