Justiça para todos

Li a avaliação intercalar da autorização do serviço Hot TV feita pela ERC. Fiquei contente por saber que o canal cumpre os horários e que os tempos para a publicidade são corretos.

É, no entanto, inconcebível que a exibição de filmes eróticos europeus esteja abaixo do exigido pelo artigo 45 da LTSAP (Lei da Televisão e Serviços Audiovisuais). Como se esta infração fosse pouco, a Hot TV não chega a cumprir a exigência mínima de produção em língua portuguesa estipulada no artigo 46. Não chega a 10% de oferta de porno autóctone! O relatório foi assinado por Arons de Carvalho, que não me deixa mentir. Não é o sítio nem a hora de dar a minha opinião sobre os conteúdos, de resto péssimos. Porém, nunca é demais defender a produção nacional. Um dado omitido pelo relatório diz respeito aos profissionais da dobragem. Tudo leva a crer que estarão a ser prejudicados. Onde estão agora aqueles que tanto defenderam as dobragens para filmes estrangeiros?

Vida extraterrestre

Há dias percebi o que é um gato. Aconteceu após 16 anos de convivência com um animal desta espécie. O bicho tem, portanto, quase 100 anos em idade humana. Para já sabemos que um gato não tem reações minimamente parecidas com as dos cães. Se o chamarmos, não vem. Se está presente, é por algum interesse incompreensível e próprio e se mia é por lhe faltar comida ou água. Não tem muito que saber, mas por alguma razão acreditava que o gato escolhia deitar-se em cima de calças e casacos porque ‘reconhecia’ um cheiro. Era uma forma instintiva de estabelecer uma ligação com a espécie com a qual partilha a casa dele. Acontece que um dia deixei um saco de papel no lugar de um par de calças ou de um casaco. Passados minutos, qual não é o meu espanto quando vejo o gato deitado em cima do saco a dormir a sua sesta de 12 horas. Fiquei espantada com a indiferença, mas ao mesmo tempo tive a certeza de que gatos não são muito diferentes de extraterrestres.  

Força de resistência

Sabemos que existe uma certeza relativamente à meteorologia: há uma probabilidade muito forte de as previsões não se verificarem. Mesmo assim, consultamos aplicações que nos garantem que amanhã não vai chover e não nos passa pela cabeça duvidar disso. Depois não chove e tudo bem. No dia seguinte, voltamos a fazer planos baseados em probabilidades frágeis com uma espécie de esperança radical. Quando ouvi dizer que o furacão Patrícia se aproximava da costa do México com ventos que ultrapassavam os 300 km/h fiquei a pensar que teríamos uma calamidade parecida com a do tsunami na Indonésia há mais de dez anos. Afinal, contrariamente ao previsto, mas de acordo com a máxima de que não se pode confiar nas previsões do tempo, o Patrícia passou a brisa quando se afastou da sua principal fonte de energia: o calor do Oceano Pacífico. Segundo os especialistas, as montanhas mexicanas funcionaram como uma força de resistência ao furacão. Benditas sejam.

Má televisão

Como o escritor argentino Jorge Luis Borges aconselhava sobre livros, uma vez detetada uma má ou péssima ou apenas desagradável série de televisão, esta deve ser abandonada sem dó nem piedade. Não há tempo nem espaço para dar mais de uma oportunidade àquilo que nos causa mau estar psicológico, às vezes físico, e que nos faz perder tempo. Porque é preciso tempo para ver com atenção certas séries e ainda mais tempo para pensar sobre o que vimos, como acontece com os livros que mais nos interessam. Vou dar um exemplo de uma série que deve ser evitada a todo o custo. Falo de Law & Order: Special Victims Unit. As histórias são sórdidas, os diálogos uma lástima e os atores muito maus. Por vezes a narrativa tem problemas graves. Noutros episódios parece haver uma tentativa de não moralizar certos problemas, o que já me causou repugnância. Nem a curiosidade de Mariska Hargitay ser filha de Jayne Mansfield nos deve deter por mais do que um episódio.

De mentira em mentira

Ninguém minimamente informado acredita na afirmação de Benjamin Netanyahu sobre ter sido o mufti Haj Amin al-Husseini a influenciar Adolf Hitler acerca do extermínio dos judeus. No Daily Beast, Jay Michaelson tentou explicar as razões da afirmação. Além da justificação inevitável de ter sido «citado fora  do contexto», um clássico que raramente convence, o autor diz-nos que se trata de uma mentira anti-árabe simétrica à negação anti-semita do Holocausto feita pelos suspeitos do costume, como Abbas, os iranianos, Arafat, políticos da extrema-direita francesa, etc. A sua veracidade não é histórica mas apenas política no sentido populista da palavra. Se bem percebi aquilo que Jay Michaelson descreve, radicais de um lado e do outro combatem mentiras hiperbólicas com outras de tamanho idêntico. No fundo, trata-se de uma discussão demagógica em que só interessa saber quem conta a maior mentira. Será verdade que é mesmo disto que os povos gostam?