Ministro do Interior angolano diz que Luaty Beirão não se importa com a vida

O ministro do Interior de Angola afirmou hoje, em Luanda, que Luaty Beirão, um dos 15 ativistas detidos desde junho e protagonista de uma greve de fome que durou 36 dias, “não dá muita importância ao bem vida”. 

Ângelo Veiga Tavares, que falava em conferência de imprensa, realizada hoje no âmbito das comemorações dos 40 anos de independência angolana, disse que chegou a essa conclusão por análises que fez e com base na avaliação por psicólogos.

"E posso dar aqui um exemplo, nas suas reuniões, que alguns insistem que era para analisar um livro, e faziam a abordagem da incursão ao palácio presidencial, com crianças nos ombros, com mulheres e velhos à frente, enquanto o seu colega de grupo Domingos da Cruz [autor do livro que era discutido] defendia, que se houvesse intervenção das forças armadas, eles deveriam desistir dessa incursão para o palácio presidencial, para forçar a demissão do Presidente da República, o jovem Luaty defendia que não deveriam recuar, que deveriam deixar-se morrer", disse o ministro.

Segundo Ângelo Veiga Tavares, "por aí já se vê que é um jovem que valoriza muito pouco o bem vida".

O governante angolano disse ainda que durante a greve de fome protagonizada por Luaty Beirão foi-lhe dada toda assistência no sentido da preservação da sua vida, frisando que o se verificou foi uma rejeição da ingestão de alimentos sólidos, compensada pela administração de alimentação intravenosa.

"Foi essa a intervenção que fizemos, preferimos por uma questão de prudência, e até porque era nosso dever e nós iríamos fazer tudo para preservar a vida desse jovem, preferimos transferi-lo para uma clínica de referência, onde foi confirmado aquilo que já tinha sido confirmado no sistema prisional", sublinhou Ângelo Veiga Tavares.

O titular da pasta das polícias confirmou o regresso de Luaty Beirão ao hospital-prisão de São Paulo, na terça-feira, de onde saiu a 15 de outubro, e onde se encontram os restantes 14 detidos desde junho passado, sob acusação do crime de atos preparatórios de rebelião e atentado contra o Presidente da República.

"E do último relatório que tive acesso, ele estava com uma hemoglobina de 14, se calhar é melhor do que muitos do que estão aqui presentes do ponto de vista de hemoglobina", ironizou o ministro.

Ainda sobre o período de greve de fome de Luaty Beirão, que terminou a 27 de outubro, o ministro disse que foram muitas as ações de solidariedade, inclusive da parte de políticos da oposição, para demover o jovem ativista do seu intento.

"Registamos, com algum agrado, a intervenção de partidos da oposição, que procuraram juntar-se ao nosso esforço no sentido de persuadir, particularmente, o jovem Luaty a não continuar na greve de fome e fomos abertos a todos quantos se predispuseram para o fazer", disse.

"O próprio senhor Rafael Marques [ativista e jornalista] conseguiu o meu número de telefone, ligou para mim, manifestou o interesse em recolher assinaturas dos demais para levar ao Luaty para demovê-lo, autorizamos, ele foi, recolheu as assinaturas, disse-nos que estava a preparar um texto que era para o Luaty depois assinar para levantar a greve de fome, vocês viram o texto preparado pelo senhor Rafael Marques, que depois foi assinado pelo Luaty [anunciando o fim da greve de fome] e tornado público", acrescentou. 

Lusa/SOL