Bicicletas pedalam a alta velocidade

Ainda há fábricas que produzem bicicletas em Portugal.Umas investiram e estão no pelotão da frente, outras lutam para não ‘derrapar’. Mas todas têm novos projectos para crescer

a indústria portuguesa de fabrico de bicicletas está a ganhar velocidade com o aumento dos preços do petróleo e dos transportes públicos, bem como a redução do poder de compra dos portugueses para a aquisição de automóveis – situação agravada pela escassez de crédito. com novos projectos em carteira, a rodi, a miralago e a órbita, principais unidades industriais de fabrico e montagem de bicicletas em portugal, têm agora mais ritmo para reforçarem as vendas no mercado nacional.

link: ‘já há porsches e rolls-royce das bicicletas’.

estas empresas são as sobreviventes à liberalização das trocas comerciais. com as suas instalações localizadas no distrito de aveiro, os empresários deste sector bebem o conhecimento local acumulado ao longo de gerações para obterem ganhos de competitividade decisivos. nos parques industriais onde se localizam, a maioria de empresas desapareceu e mais nenhuma empresa de ‘peso’ conseguiu manter a produção de bicicletas. umas dedicam-se à montagem com componentes importados. a maioria desapareceu.

nas longas etapas em contra-relógio, a rodi efectuou um esforço de modernização para conseguir chegar ao pelotão da frente. «investimos aqui muito dinheiro, nos últimos anos, para nos apetrecharmos, de modo a produzirmos produtos com alta qualidade», diz o director-geral, pedro gonçalves. a fábrica, localizada no concelho de aveiro, está ao nível dos países mais competitivos do mundo, como a alemanha e os eua. com a linha de produção quase toda automatizada, a_rodi consegue produzir «cinco milhões de aros e 500 mil rodas completas por ano com 230 trabalhadores».

no meio do barulho de uma fábrica que mais parece um robot gigante, o processo repete-se vezes sem conta: cortam-se as tiras de alumínio – comprado em portugal –, uma máquina dá-lhe a forma de uma roda perfeita, outra fura os aros no sítio onde irão entrar os raios, depois entram numa máquina para serem pintados e, finalmente, «enche-se o cubo», isto é, são colocados os raios, por uma máquina ou manualmente.

tudo é feito ao pormenor. no departamento de desenvolvimento até se desenha o interior dos aros, ao milímetro. e o produto será, maioritariamente, exportado para «holanda, bélgica e alemanha».

tendo facturado 15 milhões de euros em 2011, a rodi pretende aumentar o seu volume de vendas este ano. para isso, tem em curso um processo de captação de clientes na américa do_sul e, no início de abril, vai lançar um programa de venda de produtos nas lojas em território nacional.

recuar no tempo

um pouco mais ao lado, em águeda, está a fábrica da miralago. basta percorrer uma ‘mão cheia’ de quilómetros para se entrar numa outra realidade: a única fábrica de quadros para as bicicletas do país mantém grande parte dos processos tradicionais com que produz há mais de 40 anos. também por isso, mas não só, a empresa registou prejuízos em dois dos últimos três anos e despediu 50 dos anteriores 120 trabalhadores.

«fabricamos quadros, guiadores, rodas, pedais, guarda-lamas… mas a concorrência asiática é muito forte», justifica o chairman alfredo marques.

aqui ainda se trabalha o aço como antigamente para fabricar 50 mil quadros por ano. corta-se, molda-se, dobra-se, solda-se e pinta-se o aço. sente-se no ar o ambiente da indústria pesada.

os operários, pelo que se pode ver, são indispensáveis nas tarefas e a qualidade do produto é inatacável. «competir pelo preço é impossível», atira o responsável.

a empresa que fabricou as bicicletas que circulam gratuitamente em paris, as velib, continua a exportar para frança e confia nas encomendas vindas da grande superfície decathlon e dos ctt – 150 bicicletas eléctricas – para aumentar o volume de negócios de 2,2 para 2,75 milhões de euros. «temos a esperança de que este seja o ano de viragem», remata alfredo marques.

os produtos seguem para a empresa que detém a histórica órbita. aqui, manda o fundador aurélio ferreira, cujas pernas que ainda pedalam têm mais de cinquenta anos de experiência no ramo. «oh faustino, o que está aí a fazer?», dirige-se a um operário. «aqui demoramos entre um e dois minutos e meio a montar uma bicicleta, tudo tem de estar a funcionar». no total, são mais de 500 por dia, montadas por 35 empregados, e que renderam 2,3 milhões de euros em 2011.

frederico.pinheiro@sol.pt