O que faz o The Voice superar o reality show da TVI

Momento de viragem ou acaso? Estamos a assistir ao princípio do fim dos reality shows, substituídos por programas de talento? Ou apenas ao resultado de uma aposta forte da RTP que correu bem, sem uma resposta da concorrência à altura?

Uma leitura simples dos números mostra que desde que o The Voice arrancou aos domingos, na RTP1, a 11 de outubro, ganhou sempre à concorrência. O sinal de alarme para a TVI surgiu, no entanto, a 25 de outubro, quando  a gala de A Quinta obteve audiências inferiores ao número mágico de um milhão de espetadores – mais precisamente, 963 mil espetadores (22,6% do total do bolo televisivo). Algo que nunca tinha acontecido na longa história dos reality shows da TVI desde a emissão do primeiro Big Brother, há já 15 anos. 

Ao mesmo tempo, a 25 de outubro, o The Voice interessava a um milhão e 210 mil espetadores, com um share de 26%, ou seja, mais do que um quarto do total de espetadores. 

Em entrevista ao Correio da Manhã, Teresa Guilherme – conhecida como o rosto deste tipo de programas – disse que há «o risco de isto ser o começo do fim dos reality shows». Na sua opinião, foi a TVI cometeu o erro estratégico de não fazer pequenas emissões diárias sobre A Quinta antes do Jornal das 8, para ir mantendo o interesse da audiência –  o que levará as galas de domingo a terem resultados desastrosos. E sustenta ainda: «O The Voice é um programa maravilhoso. E mais vale perder para um bom produto do que para um mau».

O SOL contactou a direção de programas da TVI para saber se a estação está a repensar a estratégia de emissão de A Quinta, mas não recebeu repostas até à hora de fecho.

The Voice sobe para 25% em relação à edição anterior

O The Voice é a repetição da fórmula que em março do ano passado – ainda sob a direção de programas de Hugo Andrade – deu à RTP shares igualmente assinaláveis. O total das 17 emissões obteve então uma média de 20,5% de share, concorrendo com o reality show da SIC apresentado por Bárbara Guimarães, O Poder do Amor  – que fez uma média de 18,6% de share e 729 mil espetadores – e contra o concurso de talentos Rising Star, apresentado por Leonor Poeiras na TVI – que fez uma média de 25,1% de share, com um milhão e 39 mil espetadores.

Nesta temporada, as posições inverteram-se. A RTP1 ganha (com um share médio de 25%)  e a TVI fica em segundo lugar (com um share médio de 23 %) nas galas de A Quinta.

Daniel Deusdado, diretor de programas da estação pública,  refere que, «quando há três meses a RTP  decidiu ter o The Voice em 2015 e 2016» era porque acreditava que iria «proporcionar um bom domingo de televisão, independentemente de  obter 15, 20 ou 30% de share». No entanto, refere que os «resultados são muito bons» e que a aposta no programa para o domingo à noite se  enquadra «nos valores do serviço público: revelação de novos artistas e de novas gerações». 

Quanto ao casting de concorrentes, Deusdado salienta que se conjugaram fatores que potenciaram «a demonstração do nosso espaço geográfico alargado – Portugal continental, ilhas, mas também participantes oriundos da lusofonia ou de destinos de emigração».

Catarina Furtado e Vasco Palmeirim mantiveram-se na apresentação do programa por darem «todas as garantias». Rui Reininho, que na edição anterior estava na equipa de mentores (que escolhem e apadrinham a evolução dos candidatos ao longo do concurso), é agora substituído por Aurea, cuja prestação tem sido elogiada pelos colegas e também por Deusdado que considera ter sido uma decisão «feliz».

Marisa Liz, mentora do júri desde a edição anterior, sustenta que embora a equipa do The Voice não esteja preocupada com as audiências «há um ambiente de trabalho maravilhoso e uma entrega enorme de toda a gente» e entende  que isso «se calhar, passa para o ecrã». A cantora dos Amor Electro explica que não sente que haja um maior nível dos concorrentes nesta edição porque sempre sentiu, diz, que  «Portugal tem pessoas muito talentosas, que podiam concorrer e ganhar os The Voice lá fora».