A palavra de um comunista

É o que se conclui sobre o delicado processo negocial entre as esquerdas, de cujo resultado se esperam notícias seguras somente neste fim de semana. Ao tempo em que foi anunciada, a tal «solução» não era mais do que uma hipótese ou uma esperança, tudo indicando que Costa tomou, cedo de mais, os desejos por…

Ao incumbir Passos Coelho de formar governo, o Presidente optou pela saída justa, mas essa opção, tão contestada por ser «uma perda de tempo», foi, afinal, uma ajuda preciosa ao PS. Sem ela, António Costa, uma vez indigitado primeiro-ministro, teria ficado ainda mais à mercê das exigências dos seus parceiros de aventura.

A forma como tem decorrido esse processo diz-nos alguma coisa sobre a atitude das partes, que está longe de prenunciar consistência e de gerar confiança. Os parceiros do PS nem para forjarem uma aliança se sentam à mesa uns com os outros. Não se entendem sobre o texto de uma moção de rejeição única quando todos dizem pretender derrubar o Governo PSD/CDS. Multiplicam-se em declarações públicas, no caso do BE para dar a ideia de que comanda o processo e, no do PCP, para exprimir o seu incómodo por meias palavras, marcando distâncias que só dificultam o entendimento. Faltava a notícia, não desmentida, de que poderá não existir apenas um acordo assinado por todos, mas tantos acordos quantos os partidos envolvidos, o que é só mais um sinal da bizarria em que se tornou esta negociação.

Na vigência de uma coligação ou de uma aliança parlamentar de que dependa a sobrevivência do Governo, o poder do parceiro mais forte é igual ao do mais fraco, porque qualquer deles pode derrubar esse Governo. E o cimento de um acordo desse tipo não é a relação de forças medida pelos votos alcançados, mas sim uma convergência de interesses, ainda que pontual e de natureza distinta.

Neste caso, compreende-se o interesse do BE. É uma força política jovem e em ascensão, mas sem poder real para lá do Parlamento e ainda há pouco ameaçada por dissidências várias que o acusavam precisamente de ser nada mais do que um partido de protesto. Procura, por esta via, fazer prova de responsabilidade, respeitabilidade e utilidade política. Desde que consiga, como parece já ter conseguido, impor as suas condições mínimas, tem tudo a ganhar.

Já do PCP não se pode dizer o mesmo. É um partido com história, e uma história muito peculiar, mas em declínio aparentemente inexorável, atendendo à natureza do seu eleitorado mais fiel. Tem, no entanto, poder real na sociedade, nas autarquias e nos sindicatos. Se assumir responsabilidades quanto ao Governo e as cumprir, autolimita-se no plano da intervenção social e sindical, abdicando do seu trunfo político mais forte. Não fosse a ameaça do BE e mal se compreenderia esta súbita reviravolta tática.

Dos parceiros negociais do PS, o PCP é, pois, o que tem mais a perder. Não admira que resista a um compromisso escrito, afirmando, como fez o líder parlamentar, que «a palavra de um comunista vale tanto como um papel assinado». Jerónimo já o tinha dito por outras palavras. É o regresso da velha «superioridade moral». Tem este problema: no ponto a que chegámos, se um eventual recuo salvasse – ou ainda salvar – o Governo de Passos, o PCP pagá-lo-ia caro nas urnas. Especialmente no caso de novas eleições em breve.

O pensionista com sorte

Os lesados do BES voltaram às lides para tentarem reaver o dinheiro que investiram, uns sabendo ao que iam, outros enganados sem pudor. Manifestam-se ruidosamente, ora na sede do antigo BES, ora no Banco de Portugal, cujo governador elegeram como inimigo principal. Curiosamente, nunca lhes ocorreu ir até Cascais pedir contas ao chefe supremo do banco que os lesou e que recebeu esta semana uma boa notícia: a sua pensão de uns míseros 29 mil euros mensais, que havia sido cortada, volta aos 90 mil, acrescendo retroativos no valor de quase um milhão.

… e um deputado com lata

Um cidadão que circulava de moto pelas cinco da manhã numa rua do Porto foi mandado parar pela PSP, mas recusou-se a fazer o teste de alcoolemia e seguiu viagem, sem mais incómodos. O dito chama-se Miguel Santos e é deputado do PSD. Segundo as notícias, invocou a «imunidade parlamentar» para se furtar ao balão. Um deputado pode, pelos vistos, conduzir embriagado. Não era o caso, segundo o próprio, que jurou posteriormente nem sequer beber álcool. Mas isto significa que a polícia treme e a lei nada vale perante um cartão de deputado. Abençoado regime!