Um gestor de curto prazo

1.Vale uma aposta?  Aproxima-se o momento da verdade para o PS. Na noite de 4 de outubro António Costa prometeu que só votaria uma moção de rejeição construtiva. Ao nomear Passos Coelho, Cavaco Silva pôs o cronómetro a correr para a edificação dessa alternativa construtiva.

O tempo joga contra Costa. Contra ele jogam também outros fatores:  a relutância comunista ao compromisso formal; a resistência interna aos receios da ‘pasokização’ do PS; e, mais recentemente, os receios da reação da agência de rating DRBS, a única que considera a dívida portuguesa investment grade, a uma política anti-austeridade. Juntando tudo isto apostaria que a ‘alternativa de esquerda’ não estará construída (no sentido de que nada está acordado até tudo estar acordado) a tempo da votação do programa de governo e que,  assim sendo, o PS abster-se-á, viabilizando o governo minoritário PSD-CDS. Depois, tudo depende do que acontecer na liderança do PS. Mas isso são contas para outra crónica.

2. Mourinho. É impressionante registar o número de páginas dedicadas a José Mourinho na imprensa inglesa. E não são apenas as secções desportivas ou os red-top. O exemplo mais recente foi a edição do passado fim de semana do prestigiado e circunspecto Financial Times. Janen Ganesh, um colunista político (note-se!), dedicou-lhe uma peça estimulantemente intitulada ‘O carismático mestre do caos’ (The charismatic lord of chaos). A ‘maldição do terceiro ano’ que parece assolar Mourinho e que o leva a mudar de clube depois de dois anos de sucesso,  suscita a interessante reflexão de que a carreira  de Mourinho, revelando-o como um gestor de gestor de curto prazo sem preocupação de deixar uma obra duradoura é, afinal, o padrão na maioria dos gestores empresariais de topo –ao contrário do exemplo do agora professor na Harvard Business School, Alex Ferguson, que esteve 27 anos no Manchester United.

3. As portas fecham-se na Europa Central. As ondas sísmicas provocadas pela crise migratória continuam a abalar a Europa. Angela Merkel, geralmente vista (e elogiada) como a senhora ‘portas abertas’, enfrenta a contestação do seu tradicional aliado bávaro e, mais importante, parece ter perdido o seu mais importante trunfo, a relação especial com o eleitorado, com aqueles que lhe chamavam Mutti (mamã). De tal modo mudou a situação que muitas analistas profetizam o fim da era da chanceler. Se Merkel cair em 2017 (ou antes) a UE perde o seu mais importante pilar e os países da periferia endivida um (apesar de tudo) aliado.  Do outro lado da fronteira, a vitória do Partido da Lei e Justiça na Polónia, reforça a corrente de direita nacionalista que já domina a grupo de Visegrado e que é eurocética e militantemente inimiga do acolhimento de refugiados e de uma solução europeia para esta crise. Afinal a Brexit pode ser o menor dos problemas que a União Europeia vai defrontar.