A euforia dos 20

Durante dois anos Paulo Ribeiro subiu várias vezes ao palco com um solo. Um solo “denso, solitário, muito agarrado às tripas”. Não se apresentava assim desde o longínquo 1991 (quando estreou Modo de Utilização), mas o regresso à cena ‘tão despido’, mais de 20 anos depois, com Sem um Tu não pode haver um Eu…

Foi o isolamento prolongado que impôs a criação de algo "cheio de turbilhão", ditando a festa que hoje e amanhã se realiza na Culturgest, em Lisboa. Decidido o tom eufórico, Paulo Ribeiro apercebeu-se da data redonda. E há algo melhor para assinalar os 20 anos de uma companhia de dança do que uma coreografia cheia de momentos celebratórios?

Com título roubado ao livro de Milan Kundera – "por ser fantástico, ao contrário da obra, oca até" -, A Festa não se fecha, porém, apenas num simples ato de exaltação. Por gostar "imenso de criar com contrastes", o espetáculo propõe vários andamentos, entre momentos festivos, marcados pela presença dos dez bailarinos em palco, e outros mais introspetivos, com o cenário humanamente despojado. "Tenho um amigo que diz que uma simples carícia é uma festa. Acho isso muito engraçado e lembrei-me desta ideia", conta o coreógrafo, que partiu do gesto individual para criar peripécias eufóricas em grupo.

Apesar do aniversário, nenhum dos bailarinos que integra A Festa está com Paulo Ribeiro há 20 anos. O facto de estar sediado no Teatro Viriato dificulta a "fixação de bailarinos em Viseu", bem como o objetivo de "dar corpo à utopia" que impôs o aparecimento da Companhia em 1995. E 20 anos depois o sonho ainda é o mesmo? "É o mesmo, com a diferença de que, há 20 anos, era possível torná-lo real. Agora há menos energia, menos resistência, e a utopia é literal". 

alexandra.ho@sol.pt