Portugueses em Paris admitem medo e regresso ao país de origem

Vários emigrantes portugueses, ouvidos hoje pela Lusa na zona de Paris, onde teve lugar o mais sangrento ataque terrorista, na sexta-feira à noite, admitem sentir medo, e há até quem admita voltar ao “país santo” que é Portugal.

Portugueses em Paris admitem medo e regresso ao país de origem

Carlos estava com a família em casa, muito perto do Bataclan, a sala de espetáculos onde mais de 80 pessoas foram assassinadas, a ver a transmissão do jogo particular de futebol França-Aleamanha, mas só se apercebeu do que estava a passar quando viu numa nota de rodapé a dar conta de atentados, não só junto ao Estádio de França, como também muito perto de sua casa, num "sítio que está sempre cheio de gente jovem".

Em declarações à Lusa, conta que permaneceu em casa e até fechou as janelas. Assume que sente sobretudo "medo" e uma insegurança crescente, até porque "há 10 meses aconteceram dois atentados, e agora foram sete".

"Não sei se isto vai continuar ou parar", diz com um encolher de ombros.

Também Vítor, que mora igualmente numa rua vizinha ao Bataclan, receia que a situação tenda a piorar, e confidencia que até já falou com a mulher sobre a possibilidade de deixar França e voltar a Portugal.

"Se ficar mais grave, já falei com a minha mulher: temos de ir para Portugal outra vez e vender o que temos aqui, porque estamos mais em segurança em Portugal, não temos conflitos como tem a França", observou.

"É um país santo, Portugal!", exclama a seu lado, com acenos de concordância, Ricardo, outro emigrante português há muito radicado em Paris, que também estava em casa, não longe do Bataclan, quando tudo aconteceu.

Classificando os ataques de sexta-feira à noite, em Paris, como algo simultaneamente "triste e revoltante", admite também ter cada vez mais medo na capital francesa, que, em janeiro, já assistira aos ataques ao semanário Charlie Hebdo.

"Francamente tenho medo. Tenho medo de apanhar o metro na segunda-feira, apanhar para ir para o trabalho; [tenho] a sensação de que pode acontecer a qualquer minuto. Isto não acabou, para mim isto ainda vai continuar", diz.

Para Vítor, "agora a França entrou claramente em guerra", e dentro das próprias fronteiras, ao sofrer ataques de terroristas radicados no país e, em muitos casos, com nacionalidade francesa.

"É um país de acolhimento e agora ainda está a 'pagar as favas'. Nós estamos aqui, somos um povo emigrante, somos portugueses e estamos aqui para trabalhar, e temos de respeitar o país onde estamos", mas outros atacam o país que os acolhe e ainda por cima matando pessoas "de forma gratuita", lamentou.

Ao terem conhecimento de que há pelo menos um português entre as vítimas mortais dos atentados de sexta-feira, morto nas imediações do Estádio de França, não escondem o choque e o pesar.

"Coitado. Teve azar", deixam escapar com um ar pesaroso.

Lusa/SOL