Marques Mendes: o acordo da esquerda é ‘um queijo suíço’ e ‘uma provocação ao Presidente’

O acordo celebrado há uma semana entre PS, BE e PCP “está cheio de buracos como um queijo suíço” e “parece uma provocação ao Presidente da República”, diz Marques Mendes. Ontem, no habitual comentário na SIC, Mendes defendeu que Cavaco Silva vai ter de exigir algumas condições mínimas para dar posse a um governo liderado…

Mendes aponta aos acordos assinados uma série de fragilidades que fazem adivinhar um governo instável: "Os líderes do PCP e do BE não vão para o governo, não há nada que diga que os orçamentos estejam assegurados, não há uma palavra em como se comprometem a uma moção de confiança, nem sequer está dito que rejeitam moções de censura que vierem dos adversários, e, finalmente, nem uma palavra existe sobre algo que é fundamental para Portugal e que é o respeito pelo tratado orçamental europeu". Ou seja, salienta, "isto está cheio de buracos, parece um queijo suíço". Do ponto de vista da imagem, salienta, ainda é pior: "Todos os líderes disseram que isto é um acordo histórico, mas se é assim deviam ter orgulho em exibi-lo e fazerem uma cerimónia pública. Não, foi uma cerimónia às escondidas, parece que têm vergonha do que assinaram. Ou seja, eles próprios não acreditam nisto".

Por outro lado, salientou, mal passou uma semana e já houve três casos de divergências — referindo-se às declarações de Mário Centeno de que a  reversão das concessões a privados das empresas de transportes de Lisboa e Porto é um mero princípio programático e que a dívida pública é mesmo para pagar (tendo logo reações negativas do PCP e de Catarina Martins) e ainda a entrevista em que Jerónimo de Sousa revelou que nem a aprovação do próximo Orçamento de Estado está garantido.

Cavaco tem que optar "entre dois males"

"Por isso, parece-me que este acordo é uma certa provocação ao Presidente da República. Pode não ter havido essa intenção, mas o resultado é esse. O Presidente tinha colocado um conjunto de questões e tinha pedido o mínimo de estabilidade, ora este acordo é o máximo da instabilidade", salientou Marques Mendes.

Perante isto, "o PR está numa posição muito difícil" e "tem aqui que optar entre dois males: um mal maior que seria um governo de gestão ou o mal menor que é o governo do PS com este acordo pífio, preso por arames, que ao primeiro safanão pode ir por água abaixo".

Para Mendes, perante isto, "o Presidente não pode dar posse assim sem mais, pois seria uma rendição, não tem os mínimos dos mínimos de garantia de estabilidade". Portanto, Cavaco Silva "vai pedir esclarecimentos e vai ter de exigir o mínimo dos mínimos para defesa de um mínimo de estabilidade". Por exemplo, adianta, "uma moção de confiança no dia em que o programa do governo for discutido no Parlamento; que o primeiro orçamento seja aprovado; que haja um entendimento quanto às leis vindas do governo e, finalmente, sobre o Programa de Estabilidade  e Crescimento a apresentar em Bruxelas já em abril".

Seja como for, conclui Mendes, "só por milagre" este governo durará uma legislatura: "Isso é ficção política que ninguém em Portugal, da direita à esquerda, acredita. Basicamente, é governo para durar um ano. Porque o acordo é pífio, as medidas que lá estão são para um ano, Costa chega ao poder já com autoridade diminuída, sem estado de graça, e depois porque os três partidos  desconfiam uns dos outros".

paula.azevedo@sol.pt