Monja budista acusada de casar com dois monges e de gastar dinheiro de donativos

Uma monja budista de Hong Kong, detida há um mês por suspeitas de casar com dois monges para lhes garantir residência, foi agora acusada de usar indevidamente dinheiro de donativos. Foram milhares de euros gastos por Sik Chi Ding em antiguidades, cosméticos e lingerie sexy.

O processo foi iniciado por Mary Jean Reimer, uma advogada que integra o conselho de gestão do mosteiro Ting Wai, no distrito de Tai Po, em Hong Kong. Segundo o jornal South China Morning Post, Reimer começou a suspeitar de Sik Chi Ding, de 47 anos, meses depois de visitar o mosteiro no início do ano e iniciar em março uma campanha de recolha de donativos para recuperar o edifício.

Em seis meses foram angariados cinco milhões de dólares de Hong Kong (HKD), mais de 600 mil euros, porque o mosteiro estava em ruínas e a responsável pelo mesmo, Sik Chi Ding, dizia que não tinha sequer dinheiro para pagar a conta de electricidade. No entanto, não foram feitas quaisquer obras ou reparações no local.

A advogada de 51 anos – que também já foi actriz e é viúva de um conhecido actor, realizador e mestre de artes marciais de Hong Kong, Lau Kar-Leung – afirmou que ofereceu do seu próprio bolso 100 mil HKD (mais de 12 mil euros).

Reimer exigiu ver as contas do mosteiro e ficou ainda mais supreendida ao encontrar alegados gastos de 4,9 milhões de HKD (594 mil euros) em obras na última década, o que adensava o mistério sobre as más condições do edifício erguido há quase 100 anos, sendo o mais antigo de Tai Po.

Esta semana foram tornados públicos alguns detalhes sobre os hábitos, e gastos, ‘pouco budistas’ de Sik Chi Ding. Desde logo saltam à vista recibos de quase 1.400 euros em lingerie sexy do Japão, outros de antiguidades chinesas e joalharia, bem como 7.170 HKD (870 euros) em produtos de beleza da marca japonesa Shiseido.

Desvios e fraude com casamentos

Além destes ‘pequenos luxos’ da responsável do mosteiro Ting Wai, Mary Jean Reimer ainda detetou donativos de 72 mil euros a um outro mosteiro no continente, em Jingdezhen, a mais de 800 km. Só que esse mosteiro afinal não existe.

A freira Sik Chi Ding foi detida a 13 de outubro, uma terça-feira, logo após as primeiras acusações de Reimer, juntamente com dois monges e outras duas pessoas. Foram encontrados no mosteiro alguns certificados de casamento e a advogada diz que Chi Ding lhe confessou antes ter casado com dois monges do continente, para que estes conseguissem autorização de residência em Hong Kong.

Em cima de todo este caso, no mínimo insólito, está o facto de o mosteiro estar a operar também ilegalmente um columbário – local onde se colocam pequenas urnas funerárias com cinzas de cadáveres. As autoridades de Hong Kong, escreveu ainda o South China Morning Post, já disseram que as urnas terão de ser retiradas, afetando cerca de 200 famílias que podiam não estar a par da falta de licenciamento.

emanuel.costa@sol.pt