O senhor no Saldanha que dizia adeus

Eram os meus primeiros tempos de faculdade e como qualquer jovem da minha idade tentava absorver o admirável mundo novo agarrando-o com as duas mãos. Tudo era sinónimo de riso, galhofa e brincadeira (ainda hoje é) mas havia coisas que não tínhamos ainda capacidade para entender.

É isso que a idade nos dá, sabermos apreciar os momentos e ver para além do que a visão nos tem para oferecer. Uma das coisas que mais nos intrigava nos princípios de noite era aquele ‘velhote’ prostrado no Saldanha a dizer adeus a tudo o que passava. Chamavam-lhe louco, demente e até coisas piores que me recuso aqui a transcrever. Eu próprio por vezes entrei nesse filme de gozação.

Fui aprendendo com a vida que há pessoas que não precisam de se impôr para terem o carisma dos grandes e com isso o meu respeito pelo João Manuel Serra cresceu. Tenho pena de nunca lho ter dito ou de me ter apercebido tarde de mais. Numa cidade cosmopolita como Lisboa é hoje, tenho para mim que os turistas que nos visitam tê-lo-iam eternizado de outra forma.

Num tempo de valores e princípios confusos fazem-nos falta pessoas que dizem ‘olá’ só porque sim, que nos cumprimentam na rua com um sorriso só por simpatia, que nas pequenas coisas nos tornam os dias melhores. Gostava que Lisboa um dia lhe prestasse o devido reconhecimento para que as pessoas se lembrassem que nem sempre as atitudes resvalam para segundas intenções.

E que dizer ‘olá’ e ‘bom dia’ a um desconhecido não é sinal de loucura ou de intromissão mas de uma sociedade melhor.