FMI defende continuação da moderação salarial em países como Portugal

Um estudo de economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) defende a continuação da moderação salarial em países como Portugal, considerando que tem um impacto positivo na criação de emprego e no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). 

FMI defende continuação da moderação salarial em países como Portugal

De acordo com uma 'Nota para Discussão' de uma equipa de 10 economistas do FMI, que se centra sobretudo nos países da zona euro atingidos pela crise — Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda e Itália -, apesar de já haver um processo de crescimento moderado dos salários nominais, com estes a reduzirem-se face à produtividade, é necessário "mais moderação salarial" para aumentar o emprego e evitar que essas economias regressem aos défices da balança de conta corrente com a recuperação económica.

Os economistas defendem que essa moderação salarial teria um efeito positivo na competitividade, tornando a compra de bens e serviços mais baratos e ajudando as exportações, mas também na procura interna devido à riqueza trazida pelo aumento das exportações, ainda que mitigado por um efeito negativo de um aumento real das taxas de juro.

Perante uma economia em crise, a 'receita' do FMI tem passado por desvalorizar a moeda para com isso reduzir o valor real dos salários e das taxas de juro. No entanto, isso não é possível nos países da zona euro, como Portugal, que não têm uma divisa própria para controlar.

O FMI tem defendido então a chamada 'desvalorização interna', nomeadamente através da redução nominal dos custos como os salários, e neste documento os economistas da instituição liderada por Christine Lagarde dizem que não deve ser abandonada a moderação salarial, isto quando em Portugal se discute o aumento do salário mínimo e a reposição dos salários na função pública.

Este estudo tenta também perceber os efeitos sobre as economias quando a moderação salarial é levada a cabo apenas por um país ou quando vários a fazem simultâneo.

Tendo em conta o pressuposto de uma redução do crescimento nominal dos salários em dois pontos percentuais, se apenas um país fizer a moderação salarial há um efeito "fortemente positivo", destacam os economistas, que estimam um aumento de 1% do PIB face ao cenário base no segundo ano e 2% no terceiro ano.

Já se todos os países reduzissem a inflação salarial em dois pontos percentuais, haveria uma expansão do PIB de apenas 1% no terceiro ano.

O FMI conclui, assim, que quanto mais países levarem a cabo a moderação salarial, menos é o efeito, mas que há sempre um impacto positivo de uma política de moderação salarial.

Por fim, é defendido que a moderação salarial seja combinada com uma política monetária de estímulo à economia e com reformas estruturais, o que — consideram os economistas — teria efeitos agregados importantes não só nos países em crise como em toda a zona euro.

Lusa/SOL