Lomu andou à frente do tempo, até na morte

«Há um râguebi antes do Lomu e outro depois do Lomu. A sua dimensão física, a forma como atropelava qualquer adversário, ao aliar velocidade e peso como nunca se tinha visto, mudou a modalidade».

Lomu andou à frente do tempo, até na morte

Assim falava Tomaz Morais ao SOL de Jonah Lomu, há três semanas, por ocasião do Mundial de râguebi, e assim é recordada a antiga estrela dos All Blacks na hora da sua morte, por antigos adversários e companheiros de equipa.

«Ele estava à frente do seu tempo», declarou Bernard Lapasset, presidente da World Rugby, o equivalente à FIFA no râguebi. «Levou o râguebi para outro nível», enfatizou o ex-selecionador inglês Clive Woodward. «Os pontas eram pequenos, leves e ágeis e de repente aparece este tipo enorme que não era alto e lento mas sim grande e rápido. Foi fabuloso».

Um ano antes da estreia de Lomu pela seleção principal da Nova Zelândia, em 1994, com apenas 19 anos e 45 dias – o mais novo de sempre desde 1905 -, Tomaz Morais defrontou-o numa partida de râguebi de sete. O ex-selecionador nacional testemunhou logo aí «o poder de choque» que haveria de o levar à ribalta no Mundial da África do Sul, em 1995. Com 1,96 metros e 120 quilos,  «era um jogador desumano para aqueles tempos».

Naquele que ficaria para sempre como o ensaio mais famoso da sua carreira, Jonah Lomu derrubou três ingleses, o último dos quais sem sequer se desviar. Foi em frente e atropelou Mike Catt, que se desfaz em elogios: «Julgo que ele não se apercebeu do impacto que teve. O râguebi era um jogo amador e no ano seguinte já era profissional». Mike também recorda com um sorriso o momento em que estava deitado no relvado, após o choque com Lomu. Um neozelandês aproximou-se para o confortar e, em tom solidário, preveniu-o: «Há mais disto para vir». 

Lomu marcou quatro dos seus 37 ensaios pelos All Blacks nessa meia-final e depressa se tornou um fenómeno internacional. «Um herói do desporto», como referiu o ex-futebolista David Beckham.

Lomu sofria de uma insuficiência renal que o deixava cansado antes de todos os outros. Foi-lhe diagnosticada aos 20 anos e condicionou toda a sua carreira. Ainda foi o melhor marcador de ensaios no Mundial de 1999, mas já não esteve no de 2003. Na despedida da seleção, a 23 de Novembro de 2002, cuspiu sangue ao intervalo e sentiu «o corpo a falhar». O médico disse-lhe que não poderia jogar a segunda parte, mas Lomu respondeu: «Certifica-te de que há uma ambulância à minha espera daqui a 40 minutos».

Tinha 27 anos, começou a fazer diálise e em 2004 foi transplantado. Tentou voltar para o Mundial de 2007, mas não conseguiu e aguardava desde 2011 por novo transplante renal. Morreu esta quarta-feira, com 40 anos.

rui,antunes@sol.pt