Mendes desafia Finanças a esclarecer já a ‘pouca-vergonha’ da sobretaxa

“Alguém do Ministério das Finanças, ou a ministra ou o secretário de Estado, já devia ter vindo esclarecer” o que se passou para que a previsão da devolução da sobretaxa de IRS seja neste momento de zero, afirmou ontem Marques Mendes, durante o seu espaço de comentário na SIC.

Mendes desafia Finanças a esclarecer já a ‘pouca-vergonha’ da sobretaxa

Depois de recordar os dados – em que a previsão de devolução subiu nos três meses anteriores às eleições, de 19% (julho) para 25% (agosto) e 35% (setembro), caindo depois (9,7% em outubro e zero em novembro) –, Mendes salientou que “é estranho uma queda tão brutal a seguir às eleições e que “este silêncio do Governo é altamente comprometedor”. “Há quem diga que houve manipulação dos números. Se há manipulação, é gravíssimo e uma pouca-vergonha. Há quem diga que não e que é a atividade económica que abrandou, mas então o Governo que venha explicar”, salientou Marques Mendes, defendendo que a ministra Maria Luís Albuquerque ou o secretário de Estado Paulo Núncio devem ir ao Parlamento quanto antes esclarecer qual das duas situações se trata. Até porque, lembrou, este Executivo “está a despedir-se” e “este problema político” pode ser muito negativo para a sua imagem.

Cavaco chama hoje António Costa

Quanto à situação política, Mendes considera que “esta semana será crucial”. O Presidente, que no total já realizou 31 audiências em Belém, “já terminou este processo e o mais provável é que chame amanhã [segunda-feira] António Costa, até para pedir esclarecimentos e obter algumas garantias quanto à estabilidade do governo que este se propõe formar e a solidez do primeiro Orçamento”. A partir daí, o Presidente deverá indigitar o líder do PS para formar governo e dar-lhe depois posse, “provavelmente no final da semana, até porque António Costa já tem o seu governo feito”, adiantou Marques Mendes, revelando, por outro lado, que a eurodeputada Elisa Ferreira é já uma ‘carta fora do baralho’, pois não aceitou integrar o Executivo socialista.

Mendes defendeu Cavaco Silva quanto à forma como está a gerir este processo, lembrando que “está a fazer o mesmo que Jorge Sampaio, em 2004”, após a saída de Durão Barroso para a Comissão Europeia, “e na altura a esquerda aplaudiu”.

“A esquerda está muito nervosa, mas tem de se habituar, pois o Presidente tem os seus poderes. A direita também anda muito ressabiada e já era tempo de entrar na normalidade. Temos de ser todos mais tolerantes”, aconselhou.

A Justiça a funcionar nos vistos gold e o ‘almoço surrealista de Sócrates’

Mendes comentou ainda os dois casos judiciais que continuam na ordem do dia, um fazendo estragos à direita e o outro à esquerda.

Quanto ao caso dos vistos gold, em que foi acusado Miguel Macedo, ex-ministro da Administração Interna e seu amigo, salientou: “A conclusão do inquérito e a acusação mostram que a Justiça está a funcionar e é isso que deve acontecer num Estado de Direito, sejam os visados amigos ou não”.

No caso de Sócrates, Marques Mendes apontou a ironia de ver o ex-primeiro-ministro e amigos fazerem “um almoço a celebrar a prisão preventiva, há um ano”: “Acho um pouco surrealista, celebrar a sua detenção… mas pronto, já se percebeu que ele vai andar por aí, de um lado para o outro. E faz estas intervenções por três razões: como prova de vida, como manobra de diversão (enquanto diz estas coisas não responde ao que devia responder, como a vida faustosa que levava, paga por um amigo) e como forma de condicionar a justiça”.

paula.azevedo@sol.pt