Costa, Marcelo e Maria de Belém

Novo governo

Não estou dentro da cabeça de Cavaco Silva, mas penso que a melhor alternativa para o país será que ele indigite António Costa como primeiro-ministro. Costa, apesar de não ter ganho as eleições legislativas, é o líder do maior partido da esquerda parlamentar, que está em maioria. Apesar de, nas eleições, a coligação de direita PAF ter sido o agrupamento mais votado, ficou em minoria no parlamento, e como tal já se demonstrou que não pode continuar a governar. Os portugueses fartaram-se deles, e o já o demonstraram no parlamento.

Agora é a vez do PS e de António Costa governarem. A confirmar-se esta hipótese, será um governo que tomará medidas populares, como aumentos de salários e de pensões, pelo menos no primeiro ano. Portugal tem neste momento um pequeno excedente nas suas contas com o exterior, que um excessivo aumento dos salários poderá destruir, pelo que, a suceder, voltaremos à estaca zero. O hipotético governo do PS terá de governar com prudência financeira. O problema é que, após quatro anos de austeridade, poderá não estar disposto a isso, ou que pode ser vulnerável a eventuais propostas irrazoáveis dos partidos que assinaram acordos para o suportar parlamentarmente, o PCP e o BE.

Será, em suma, um governo frágil, que pode muito bem não durar os quatro anos da legislatura. Não admira que Passos Coelho e Paulo Portas queiram ficar no parlamento: esperam por um descalabro financeiro, pela queda do governo, e que as urnas os chamem novamente governar.

Em suma, são tempos interessantes.

Eleições presidenciais

Até há pouco tempo, estive convencido que Marcelo Rebelo de Sousa ganharia as eleições presidenciais. Há várias sondagens que apontam para essa vitória, à primeira volta. O que fez surgir a dúvida no meu espírito foi a sondagem deste fim-de-semana da Sic e do Expresso, que atribuem a Marcelo 48%. Esse resultado remete imediatamente para as eleições presidenciais de 1985/1986, nas quais, tendo tido Freitas do Amaral 48% na primeira volta, veio a perder para Mário Soares na segunda.

Isto é, pode colocar-se o cenário de, se o candidato da direita (que Marcelo é, apesar de por vezes procurar colocar-se ao centro) não conseguir ganhar à primeira volta, é impossível que ganhe à segunda. Em 1985/1986, Soares partiu de condições muito difíceis (uma sondagem deu-lhe 8%, vinha de presidir a um governo que implementou um programa de austeridade, era detestado pelo PCP), e na reta final conseguiu ganhar. Vamos a ver se Marcelo, o sapiente Marcelo que aos domingos à noite era ouvido por milhares de portugueses que eram brindados com as suas explicações da realidade, partindo de condições muito favoráveis, consegue ganhar na primeira volta. Porque, se tiver de ir à segunda, é natural que já não consiga ganhar.

Segundo a sondagem Sic/Expresso, a candidata da esquerda mais bem colocada é Maria de Belém, antiga ministra da saúde de António Guterres, pasta onde não foi brilhante: conseguiu melhorar a qualidade dos serviços de saúde, mas viu-se incapaz de lutar contra um importante descalabro financeiro. De qualquer forma é ela que vai à frente, sem dúvida ajudada pelo seu perfil centrista, superando Sampaio da Nóvoa, o académico de excelente curriculum que se apresentou em primeiro lugar, com o apoio de três ex-presidentes da República, mas cujas posições francamente esquerdistas devem estar a desagradar a uma parte do eleitorado.

Maria de Belém a próxima presidente da República? Difícil, mas não impossível.