Fundadoras e padre de instituição de Famalicão sujeitos a medida de coação mínima

Três fundadoras da Fraternidade Missionária Cristo Jovem, em Famalicão, e um padre, atual dirigente, ficaram hoje sujeitos a Termo de Identidade e Residência por suspeitas de escravidão a três raparigas, dadas como noviças.

Fundadoras e padre de instituição de Famalicão sujeitos a medida de coação mínima

A fixação da medida de coação mínima foi anunciada aos jornalistas pelo advogado da instituição, Ernesto Salgado, após primeiro interrogatório judicial dos suspeitos.

Os arguidos chegaram ao Tribunal de Vila Nova de Famalicão, no distrito de Braga, às 09h30 e saíram às 11h51, sob insultos de alguns populares que se concentraram à porta.

Na passada quarta-feira, a Polícia Judiciária (PJ) fez buscas à Fraternidade Missionária Cristo Jovem depois de três raparigas, em princípio dadas como noviças – pessoas que se preparam para a sua consagração religiosa — terem apresentado queixa por maus-tratos, escravidão e cárcere.

Depois do interrogatório, subsiste apenas a indiciação por o crime de escravidão.

A Confederação Nacional dos Institutos Religiosos de Portugal (CNIRP) assinalou à Lusa que este caso não ocorreu num convento, mas numa associação de fiéis, pelo que nem as detidas são freiras nem as vítimas são noviças.

A Fraternidade Missionária Cristo Jovem não está, por isso, sob alçada da Confederação dos Institutos Religiosos, mas da Arquidiocese de Braga, assinalou a fonte à agência Lusa.

Esta tese é corroborada pelo padre jesuíta João Caniço que disse à Lusa que a Fraternidade Missionária Cristo Jovem é uma "sociedade apostólica", ou seja, um grupo de pessoas que se associaram para fazer uma "obra comum".

"Não pode ser considerada uma congregação, nem uma instituição religiosa porque não é reconhecida como tal pela Igreja Católica", frisou.

Em comunicado, a Arquidiocese de Braga assume ter iniciado uma investigação interna à Fraternidade Missionária Cristo Jovem, depois de em 2014 ter recebido queixas de "presumíveis anomalias" na vida diária da comunidade.

"Foi indicado, ao mesmo tempo, um sacerdote para acompanhar mais de perto a vida da Fraternidade Cristo Jovem. Deslocou-se semanalmente à comunidade, dedicou tempo a conversas pessoais com as irmãs residentes e iniciou a elaboração de um relatório contendo as informações necessárias em ordem a uma oportuna decisão", referiu a Arquidiocese, em comunicado remetido à agência Lusa, sem detalhar essa mesma decisão.

A Fraternidade Missionária Cristo Jovem nasceu de um movimento para jovens que, posteriormente, construiu um edifício em Requião, Vila Nova de Famalicão, sendo agora uma associação de fiéis com estatutos aprovados a 24 de janeiro de 1978 pela Arquidiocese de Braga.

Foi esta associação que trouxe para Portugal as "cruzes do amor" que ainda podem ser vistas em muitas paróquias e casas particulares e que é considerado um símbolo apocalíptico não reconhecido pela Igreja Católica.

Lusa/SOL