António Vitorino: “Saímos da crise aguda, estamos na fase pós-traumática”

O advogado e antigo ministro socialista António Vitorino considera que Portugal já conseguiu sair da “fase aguda” da crise política depois indefinição criada com as eleições de 4 de outubro, e que “estamos na fase do stress pós-traumático”, em que não há ainda certezas sobre como correrá um governo PS com acordos à esquerda.

“Do ponto de vista do sistema partidário, descobrimos que podia haver uma bipolarizão perfeita, que nunca tinha acontecido. A convergência a esquerda foi inesperada e os resultados estão ainda para ver, está ainda no início”, disse, no Fórum Empresarial do Algarve, organizado pelo LiDE Portugal.

O histórico socialista considera que, perante os resultados eleitorais, o “sistema institucional funcionou bem”, lembrando que a cláusula que impede o Presidente da República de convocar eleições nos seis meses finais do mandato “está na Constituição desde 1982”.

Apesar de tudo, Vitorino admite que há descrença no sistema partidário e um "definhamento" da democracia representativa, em parte porque se foi perdendo o "sentido de contratualização". “O sector político, em todos os partidos, está cheio de certezas”, lamentou.

É por esta falta de diálogo político que Vitorino duvida que haja condições para uma revisão da constituição a curto prazo.“Com esta representação parlamentar, ni hablar”.

joao.madeira@sol.pt