Já estamos num dos muitos hotéis de Lisboa quando Jeff Kinney chega. Para nossa surpresa, faz-se acompanhar por uma equipa de filmagens, impossível de passar despercebida, com as suas t-shirts pretas com o rosto de Greg Heffley. As câmaras seguem-nos e juntam-se à conversa, mas o autor bestseller mostra-se tão surpreendido como nós: “Eu também não sabia que ia ser assim”, começa por explicar. “Faço muitas tours nos Estados Unidos da América e acaba por ficar tudo esquecido porque não gravamos nada”.

Assim, compreendemos a azáfama. Quem não gostaria de gravar e produzir um documentário sobre todas as memórias, tudo aquilo que viu e viveu se tivesse oportunidade de fazer uma viagem pelo mundo? É exactamente isso que Jeff Kinney está a fazer. No fim de semana passado, Lisboa marcou o meio caminho da sua tour mundial, sendo o sétimo dos 14 destinos onde apresentou – e apresentará – o décimo livro da saga de Wimpy Kid (no original), Diário de um Banana 10: Dantes é que era, editado em Portugal pela Booksmile.

“Começámos no Brasil, seguimos para o Japão, China, Austrália, Inglaterra, e agora estamos em Portugal”. E depois é a Alemanha que recebe o escritor, seguindo-se a Turquia, Roménia, Grécia e Holanda. A digressão termina na Índia, mas Jeff já sente que os pequenos leitores não são iguais em todo o lado: “As crianças são isso mesmo – crianças. Mas as brasileiras e portuguesas são diferentes, o que é interessante porque em ambos os locais se fala português. Parecem ser crianças mais abertas, transparentes e mais afetuosas”, diz.

Ídolo Bestseller

E talvez por isso tenha dito no dia da entrevista que se sentiria grato independentemente do número de crianças que aparecesse na sessão de autógrafos que realizou no passado sábado, no Centro Comercial Colombo: “Talvez apareçam 10 miúdos, talvez uns 100. Não importa, estou entusiasmado”, respondeu modestamente. O sucesso do trabalho de Jeff é conhecido e inegável, mas o autor não se revela muito talentoso na altura de pensar em números realísticos, pois ambos estavam completamente errados. Foram cerca de 500 crianças que esperaram horas pelo autógrafo do autor do seu cartoon favorito, numa fila que fazia uma meia lua no corredor do primeiro piso.

Falar de Jeff Kinney e da sua obra é falar de uma história de sucesso. Desde 3 de novembro, dia em que chegou às livrarias portuguesas, Diário de um Banana 10: Dantes é que era está em 2.º lugar no top geral de ficção e em 1.º no top infantil.

Já O Diário de um Banana 9: Assim Vais Longe, lançado no ano passado, foi o segundo livro mais vendido em Portugal na época natalícia, ficando atrás do romance de José Rodrigues dos Santos, tendo permanecido no top 10 Geral de Ficção durante várias semanas consecutivas.

Trata-se de uma verdadeira coleção bestseller mundial, que com o 10.º volume, irá alcançar os 164 milhões de exemplares editados – 755 mil em Portugal. Está traduzida em 48 línguas, com 53 diferentes edições – inclusive em latim, tendo sido uma cópia entregue em mão ao Papa Francisco. Aliás, segundo a última lista publicada pela Forbes, Jeff Kinney é o 6.º autor mais bem-sucedido em todo o mundo, rendendo 23 milhões de dólares no último ano.

Ilhas que se lêem

Mas a que se deve este fenómeno? “Acho que o formato apela muito às crianças. Abrem os meus livros e não veem uma obra literária. Parece simplesmente divertido e engraçado. Os adultos leem por prazer, por isso acho que os miúdos deviam ler pela mesma razão”. Parte disso deve-se à forma simples – mas não simplista- como desenha os seus cartoons. Estes complementam a narrativa, e não apenas a descrevem visualmente, criando ritmo na leitura. “Não inventei os livros ilustrados, mas penso que inventei uma interação diferente entre imagem e texto. A imagens são benéficas porque funcionam como pequenas ilhas para onde as crianças podem nadar. Ou seja, leem o texto e depois, como recompensa, leem a imagem”, explica, reconhecendo que o seu género “é muito híbrido”, preferindo chamá-lo Long Form Comics, por serem bandas desenhadas lineares.

Aliás, num futuro próximo o autor de 44 anos diz que gostaria de lançar um novo livro. “Tenho pensado muito sobre qual será o tema da próxima história. Costumo sempre dizer que as ideias não acabam e acho que ainda há muito no universo infantil que pode ser explorado, como por exemplo mudar de casa, o que pode ser traumático”.

Seja qual for o tema escolhido, o lugar onde o irá desenhar e escrever, muito provavelmente, já está definido: o terceiro andar da sua livraria que construiu na pequena cidade onde reside, Plainville, que fica a 60 km de Boston (EUA) – chama-se An Unlikely Story Bookstore & Café (Livraria e Café Uma História Improvável). “Vamos construir um estúdio Wimpy Kid, onde os miúdos poderão sentar-se à minha secretária, desenhar no meu tablet e usar o meu computador”. Parece que a falta de ideias, realmente nunca será um problema para Jeff.